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Meus medos.
Carregava meus medos, como quem na beira dos cais, carrega pesados fardos. Eles me atormentavam e me sacudiam nas noites, nos sonhos. Medo de errar, medo de falar, medo de apanhar do pai. Naquele tempo tinha esta onda de proteção constituída atual, que bem sabemos, tem sido uma das causas de tantos problemas domésticos. Era assim, uma surra poderia educar ou pelo menos impunha um respeito, uma espécie de referencia na dor. Aprendia-se cedo, bem ou mal, a dizer “Sim senhor”, não questionar o que os mais velhos diziam ou faziam, os mais velhos sempre tinham razão.
Algumas surras ficaram marcadas e ainda ardem no meu corpo e este medo, eu tive de carregar comigo ate à juventude, quando dei com as pernas no mundo, mas não foi fuga. E hoje, preocupadamente, assisto aos filhos desafiando, enfrentando os pais e assim se perdendo no mundo de meu Deus, ou do diabo. Lembro daquele chicote pendurado na porta, ou daquela famigerada taca de couro cru, esticada junto à montaria, isto mesmo naquela época normalmente as pessoas tinham um cavalo ou mula.
Mas o medo maior, que mais estragos fez em minha vida, foi o dos mortos, que muitas vezes não ficavam nada bonitos, colocados ali numa cama na sala de visitas, cobertos por lençol. Não poderia existir imagem mais sinistra. Faltava habilidade de maquiagem dos defuntos. Ás vezes até o caixão era feito no terreiro da casa do falecido. Aquele som do “nheco nheco” do serrote, o pano roxo, era tudo sinistro. Os velórios eram feitos nas casas dos finados, sempre regado de farta cachaça e café com pão, para as pessoas vencerem a noite, animados por aqueles, que contavam piadas noite adentro. Eu menino atrevido, sempre insistia em acompanhar meu pai nestas fúnebres visitas ou às vezes só movido pela curiosidade. Mas na volta para casa, toda ousadia caia por chão, era como se o defunto estivesse sempre do meu lado.
E foi assim que na morte de meu padrinho, tive um choque pela decepção da perda e medo, que tremia batendo queixo como carro velho. Foi quando meu pai, durante as orações de corpo presente, sugeriu que eu tinha que ver o rosto do defunto, beijar-lhe os pés e rezar pedindo para ele levar o medo. E naquela noite, me atirei nas rezas como se fosse o mais febril dos fieis. Não sei explicar, mas depois daquele noite o medo de mortos se foi. Mas perde um medo e vem outro para ocupar nosso coração. E hoje vivo do medo da solidão, de perder amigos e o de não ser compreendido, aceito, medo de amar, e acima de tudo tenho medo de me perder.
Toninho.
Inspirado no poeta Itabirano
Jose Claudio Adão,
http://uaimundo.blogspot.com/ quando de minhas leituras num de seus espaços de belas crônicas, deparei com uma onde ele fala de seus medos, e vi que eram os mesmos meus, talvez seja de todos aqueles, que um dia viveram como criança no interior. Bem, na verdade somos conterrâneos de cidade e meu padrinho era vizinho dele.