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sexta-feira, 8 de junho de 2012

Um bonde para a esperança.








Chuva impiedosa na manhã belo-horizontina de Janeiro de 1962. O Rio Arrudas com suas águas invadiam as ruas do centro. Procurei me abrigar sob a marquise da Mesbla, onde cada centímetro era disputado. Preocupava-me a pasta com os papeis da venda de uma casa no Floresta. Naquela manhã um comprador vindo do interior, me aguardava conforme telegrama. Esta venda mudaria minha situação difícil naquela cidade. 

Mas a chuva rigorosa transbordava por todos os lados. Mais pessoas chegavam ao abrigo, por ser um ponto próximo da parada dos bondes. Cada um reclamava da necessidade de chegar no horário do trabalho, outros menos ocupados preocupados como chegar cedo à casa de prostituição da Zezé. Vidas se misturavam molhadas sob aquela marquise com desejos e sonhos bem diferenciados.

Quando o bonde surgiu, as pessoas como numa Cruzadas se precipitaram nele usando guardas chuvas, como armas para "pongar" no bonde. Decepcionado e triste senti impotência e vi o bonde sumir com gente pendurada como roupas em varal. As águas mais próximas do abrigo. Num ímpeto de fúria me atirei na chuva com a pasta enfiada sob o paletó e corri pela chuva, mas não consegui ir além da marquise das Pernambucanas. 

Olhei para o relógio e senti decepção, pois o comprador já teria desistido, pois havia outro imóvel para ver. Quando um barulho ouviu, olhei para a marquise da Mesbla que desabara. Correria geral, pessoas pisoteadas, corpos caídos na enxurrada. Naquele instante a fúria se foi com as águas e calmamente sai pela chuva em direção à minha casa com um pensamento consolador, de que “perdi o bonde e a esperança e volto pálido para casa”, mas com fé renovada de que lá em cima Alguém gosta de mim e me poupou a vida, para que eu ainda possa sonhar.

Toninho.


Exercicio baseado na frase de Drummond:  
Perdi o bonde e a esperança, volto pálido para casa.