sábado, 21 de maio de 2011

A carência


 













Da série apenas uma inspiração


Da janela a rua deserta, poucos passos apressados
Nos olhos a procura na opacidade desta saudade
A vontade de me lançar nestas águas e purificar.

È noite, lá fora a chuva que não pára
Da janela fria calada vejo vultos a balançar
Numa dança estranha de corpos desconexos
Sem luz, tudo é breu, nesta noite infinita
Sinto falta de você que sei não virá.

Apenas sombras de umas lembranças teimosas
A solidão gigante nesta noite tenebrosa de outono
Onde andará este amor, que se quer ouve meus lamentos?
Sinto o frio, minha cabeça gira em lembranças tantas.
Meus olhos úmidos vigiam cada cintilar de uma estrela
Na espera inútil de encontrá-la nesta escuridão.

A saudade é pungente falta carinho, abraços, tudo é solidão.
No meu corpo que chama e reclama por você.
É preciso a travessia da rua deserta escura,
Lançar-me ei nesta escuridão?
Como é difícil a travessia destas noites traiçoeiras onde a alma
Vive estes tormentos por você que já não ouve meus ais.

Olho para esta chuva e o meu coração se cala.


Toninhobira
14/05/2011.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Funeral animal no fundo quintal- O fim do Almofadinha









imagem do Google





Aconteceu na cidade de Itabira-MG, lá pelos anos 60, quando a cidade não tinha transporte coletivo e pouquíssimos carros pelas ruas empoeiradas, ou de calçadas. Os que tinham davam para se contar nas pontas dos dedos. Bem verdade, que não tínhamos tantos quebra-molas nem este ar carregado de monóxidos e outros tantos dióxidos. Naquela época transporte bom, era um belo cavalo ou boa mula, e pela cidade liberdade de estacionamento sem ter que conviver com as multas destes órgãos.  Era interessante no largo da matriz aos domingos, se deparar com tantos animais atrelados, exibindo suas belas montarias e ouvir o tilintar de suas ferraduras pelas ruas calçadas.

Naquele bairro um senhor tinha vários animais, dado ao seu gosto pelas criaturas. Seus filhos se autodenominavam donos de cada um e assim, se obrigavam ao zelo e tratamento destes animais. O que para eles era mais uma diversão, para as mães na realidade era uma obrigação cobrada todos os dias, para explicar ao marido o que aquelas crianças tinham feito durante o dia, isto é, a tarefa de buscar os animais, tratá-los, lavá-los, etc. e tal. Coisa da educação patriarcal da época. Onde vida de mulher/esposa era cuidar da casa e das crianças. E tinha casa que as crianças tropeçavam nas outras. Conheci umas que tinham 18. Imagine se Dr. Elsimar Coutinho passasse por lá? Briga boa entre ele o padre  Zé Lopão.

Mas deixando a vida de “Kelé”, aquele senhor dos animais, tinham uma predileção muito especial, por um de seus cavalos, a quem os meninos não se atreviam a posse, mas que cuidavam com maior empenho. Era o Almofadinha, não que aquele animal tivesse as frescurinhas da palavra, mas pelo garbo no marchar compassado suave. Era um cavalo, que se acreditava inteligente, subia escadas e obedecia a certos chamados. Todos admiravam o prazer do senhor por aquele animal, quando o arriava/selava com sua mais bela SELA e rédeas retorcidas, com freios de bronze reluzente e adornado por um pelego laranja, usado só aos domingos para ir à matriz. O animal sentia sua importância, deslizava pelas ruas como numa passarela, era elegância e garbo.
Porem certo dia aquele animal apareceu com umas marcas na pele, e estas sangravam, e não se fechavam, com todos os métodos corriqueiros, caseiros de conhecimento popular da época. Lembro de uma pomada fedorenta de caixa cor amarela de nome Anticocus, de alto poder cicatrizante, fora a mais usada naquela assepsia do animal, tanto que o quintal daquela casa cheirava a tal pomada, tamanho era o desespero daquele senhor, em curar o animal. Logo surgiram as informações de que aquilo seria coisa mandada por gente do mal, que não conseguindo atingir o dono, senhor de religiosidade forte, a coisa desviou-se para algo de sua estimação. Sugeriram benzeções, consultas em terreiros, simpatias, e um monte de coisas da crendice local.

Foram meses de sofrimento do animal e daquele senhor. Dividido entre o trabalho e os cuidados ao animal, ali no fundo do quintal debaixo de uma mangueira, que ele improvisara uma espécie de curral. A cada dia mais manchas brotavam e sangravam, mas aquele homem o amava por demais, para optar pelo sacrifício. Se bem que na época, não se falava de vigilância sanitária, nem mesmo, tinham os mecanismo avançados de remoção e içamento atuais, que facilitaria a retirada do animal. A vizinhança fazia corrente em orações, para que tivesse fim o sofrer do pobre animal, os mais sincréticos professavam a vinda de um benzedor bruxo lá do lugar chamado Praia, que era bom na coisa. Mas o senhor religioso apenas seguia na sua missão e convicção religiosa de suavizar e curar.

Numa manha enfim veio a morte do Almofadinha, pois naquela manha aquele senhor, de posse de seu trabuco, tinha decidido em atirar na cabeça do animal, o que não foi preciso para alivio de seu coração. Noticia rapidamente espalhou-se pelo bairro. Então se deparou com a dificuldade, que seria remover o animal do fundo quintal. Imediatamente o senhor decidiu por enterrá-lo ali mesmo no quintal. Assim se atirou ás ferramentas na abertura de um buraco/cova para enterrar seu animal. Vizinhos, crianças ajudaram na retirada de terra naquele evento, misturado de gente e terra vermelha no funeral do animal, que levou consigo seus utensílios de cavalgada. Numa cova funda, sem cruz, sem lapide, sem flores, sem nada.

Sobre aquela cova o senhor plantou uma muda de banana Ouro, (inajá, dedo de moça, banana mosquito e etc.) banana miúda e muito saborosa, adorada por todos que a experimentam. O que se viu foi que rapidamente enraizou e passou a brotar e crescer vertiginosamente, logo dando os primeiros cachos. Frutos colhidos e maduros expostos na grande mesa da cozinha, logo foram comidos e adorados por todos, que não lembravam que aquele lugar estava os restos mortais do Almofadinha.

Hoje o que sabe, é que aquela bananeira nunca se conseguiu erradicá-la, pois os brotos se espalham por toda área próxima e crescem com rápida produção dos deliciosos frutos em abundancia, sempre procurados por vizinhos e familiares visitantes.









As bananas 

Foto propria.




Ah sim, ninguém nunca pensou em exumação, e seus restos viraram adubação.




Toninho.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

O homem que amansava animal.











 Imagem Google





Aquele homem franzino, com suas esporas sempre vistosas sobre aquelas botas longas, era o mais ágil e valente daquela região. Seu nome era Venâncio, um negro criado lá pelas bandas do Furtado entre Itabira e Santa Maria, isto lá nas Minas tão Gerais, um lugar largado numa grota, serpenteados por um córrego de água frias onde se podiam pescar vários peixes como: Bagres, Lambaris, Mandis e Traíras.

Assim nasceu e viveu ali este homem entre todos os tipos de animais. Já criança tendo como companheiros velhos amansadores de animais, vaqueiros e lavradores. Quando sol se fazia presente, ele já estava na roça com seu ginete a campear as vacas para a ordenha. De posse de uma caneca de ágata verde já descascada em varias partes, dentro desta, rapadura raspada e mais uma composição em pó guardada a sete chaves, ensinada pelos vaqueiros.  Era seu ritual tomar uma caneca do primeiro leite com esta mistura todas as manhas, conforme orientação destes, que assim procedendo seria um dos mais importante e valente vaqueiro amansador, a quem todos os animais se reverenciariam.

Certa vez em suas prosas e causos de assombrações, ali junto ao fogão de lenha a espera de um mingau de milho que fervia numa panela preta de ferro, ele segredou. Dizendo que seus pais disseram, que quando ele veio ao mundo, foi lavado com sangue de tatu, pois assim se acreditava naquela época e região, que este ato, lhe faria uma pessoa protegida de todas as doenças e maldades do mundo, assim tipo corpo fechado. Assim era o Venâncio uma pessoa destemida, uma pessoa boa, o amansador oficial de animais. Era emocionante vê-lo em ação devido sua habilidade sobre aqueles animais, que se quedavam sob suas ordens.

Aquele animal Almofadinha, de quem falo no funeral animal no fundo quintal, foi um dos amansados por Venâncio. Lembro claramente daquele momento, era um domingo, toda meninada da rua sobre os muros das casas para ver aquele homem e o animal, como nas grandes touradas. Ele recebeu o animal e lentamente com numa conversa silenciosa com a criatura, ele ia aos poucos colocando as montarias e vez ou outra o animal mostrava repulsa, bufava e se empinava nas pastas traseiras, o que era motivo de festa e medo da criançada. 

Num instante de pura magia e concentração, ele chegou bem junto ás orelhas do animal, parecia um ritual de oração entre ele e a criatura. Alguns presentes diziam que era uma reza brava, que os piões tinham para esta arte, foi um momento que o silencio imperou total naquela rua. Num lance rápido o Venâncio se jogou sobre o cavalo e os dois encenaram a mais linda dança, varrendo todo salão digo rua com suas manobras arriscadas junto ás cercas e muros das casas. Aos poucos o animal foi cedendo e ele orgulhoso vitorioso apeou do cavalo que estava totalmente molhado e calmo.

 Tempos depois em conversa com tio Venâncio, ele não sabia dizer sobre a mistura usada naquele leite pelas manhãs, pois nem ele sabia. Mas o que ele falava para o animal naquele silencio profundo era uma oração que dizia assim: 

- “Santo Antonio pequenino amansador de burro bravo, amansa esse burro para mim, que é mais bravo do que o diabo. Que fique imóvel debaixo do meu pé esquerdo. Amém”.



Publicado no Recanto das Letras
Toninhobira

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Quando vejo este mar.










Imagem do blog Pensando em Familia.





Sinto as vibrações que me fazem viajar
Vem deste mar, neste vai e vem que embala
As mais belas lembranças da minha emoção.
Eu e este solitário coqueiro que nada fala
Apenas assiste minha angustia nesta inspiração.

Lá longe um barco solitário a deslizar
Nos meus olhos intumescidos com revelações
De momentos celebres do sonhar
Nesta praia que revivo minhas recordações

Vejo ondas que se quebram em pedras escuras
Como a cria um véu branco a me enrolar
Junto da silhueta tua que me abraça toda nua
É assim, que vivo este desejo no mar/amar.

Mesmo este Sol confidente se vai lentamente
Aquarelando - se num dourado sobre o mar
Que meus olhos se perdem neste lindo poente
Que faz este belo Pôr do Sol a ti recordar

Nos meus lábios vem o sal me acordar
Neste misto de êxtase em meio à maresia
Diante deste espelho da Lua sobre o mar
Quem vem me acordar da louca euforia.



Exercício em  poesia a partir de uma imagem postada lá no blog Pensando em família, da admirável Norma Emiliano.


Então eu viajei Norma.
 
 Um lembrança de uma musica bem oportuna, enviada pelo amigo Cacá do Blog uai mundo? veja a letras que linda.


"Quando o mar
quando o mar tem mais segredo
não é quando ele se agita
nem é quando é tempestade
nem é quando é ventania
quando o mar tem mais segredo
é quando é calmaria

quando o amor
quando o amor tem mais perigo
não é quando ele se arrisca
nem é quando ele se ausenta
nem quando eu me desespero
quando o amor tem mais perigo
é quando ele é sincero."

Toninhobira
11/05/2011.