sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Onde as crianças dormem?







 “Ó, mundo tão desigual
Tudo é tão desigual...
Ó, de um lado este carnaval
Do outro a fome total”              (Gil,Henert Viana,Baroni)

  
 
Um país que se pretende uma nação de primeiro mundo, ainda convive com as desigualdades sociais tão agressivas a ponto de serem odiosas, diante dos volumes exorbitantes de cifras publicas, para contas em paraísos ficais ou mesmo para as peças intimas do vestuário de alguns parlamentares, bandidos, símbolos da locupletação, que mancha ainda mais a historia vergonhosa da política nacional. 

Sonhamos com o dinheiro publico que possa resgatar a dignidade de muitas crianças espalhadas por este Brasil, estas que nunca conheceram uma escola. Crianças que ainda neste interior imenso, empregam suas mínimas forças em pedreiras, plantação de cana ou carvoaria em sistema próximo da escravidão. São estas mesmas crianças, que quando chega o fim do dia, exaustas e famintas deixam seus corpos num catre duro feito de paus irregulares. Mortas de cansaço sonham e adormecem e num sonho imaginam coisas, que às vezes veem numa revista ou numa televisão, quando de passagem por uma cidade grande no seu pau de arara. 

São seres enegrecidos pelo sol, pela fuligem da cana queimada, do carvão que alimenta as siderurgias ainda espalhadas pelo Brasil. Onde dormem estas crianças não importa aos parlamentares e ou governantes deste país, todos omissos de uma realidade que nos envergonha, mas sorrateiramente são colocadas sob o tapete persa dos palácios onde eles preparam uma armadilha a cada dia, no sentido de locupletarem cada vez mais e aos trabalhadores mais e mais taxações como vampiros. 

Nas grandes cidades circulam pela noite. Podemos encontrar estas crianças surradas pela vida, empunhando um cachimbo, ou mesmo uma lata de cola de sapateiro. Seus olhos perdidos num mundo inexistente namoram as vitrines das lojas, dos bares, arquitetando uma maneira de adquirir suas fantasias da maneira mais comum a elas, o roubo. Quando exaustas de sonhar e rodar pelas ruas, sem sucessos nas suas investidas, as encontramos sob as marquises dos centros, ou mesmo numa área de autoatendimento de bancos. Outras simplesmente se largam num banco de praça, ou mesmo junto das colunas de um viaduto. Lá que elas adormecem e num pesadelo assustadas veem o dia clarear no seu rosto, lhe convidando para mais uma peregrinação em busca do nada e assim é sua vida, até que morte lhe surpreenda e alivie a dor.

São seres humanos, trapos de gente circulando entre as pessoas limpas, que lhes torcem o nariz, algumas vezes lhes jogando uma moeda, que eles disputam se arriscando em meio aos veículos que circulam. Ainda pode-se vê-las nas rodovias, mãos estendidas, junto de suas mães, em lugares onde os veículos desaceleram, por buracos ou outra deficiência de nossas péssimas estradas. São solidárias tapando as crateras em época de chuva e assim pensam merecer dos motoristas um trocado, ou mesmo algum tipo de lanche que por ventura tenham no carro. São elas que fazem o que os órgãos de conservação ignoram e assim elas aliviam o sofrimento de quem navega por estas rodovias. E ali adormecem no canto da estrada.

Eu as vejo espalhadas pela nação, que os relegam aos projetos sociais, que inoperantes e mal gerenciados servem apenas para coletar os recursos e desvia-los ao bel prazer. Para espanto geral noticia-se que algumas esposas de prefeitos desviam o dinheiro para compra de suas fantasias, que diferem em muito das fantasias destes meninos, que dormem em lugares que aos olhos nus nos causam tamanha indignação. 

São elas as crianças do Brasil, que não sonham com Natal, com camisas de marca de um time internacional ou mesmo de um craque de futebol brasileiro. Elas apenas alimentam o velho sonho, que um dia serão felizes, que chegarão em casa e encontrarão o pão, a cama quente, o aconchego de uma família. Mas na realidade a maioria queda morta com este sonho estampado no rosto encardido da fumaça da rua.



Toninho.
30/11/2011

Inspirado numa série de fotografias com este titulo, onde os contrastes da vida são registrados. Faz saber que esta pobreza não tem cor e raça, ela é geral nua e crua, de Norte a Sul, Leste a Oeste passando pelo Centro Oeste onde tudo acontece.


quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O pato fujão.



Todos os dias aquela família mineira se reunia pela noite, sempre na cozinha que ficava desconexa, no caminho do quintal, ali junto a uma mangueira, bem no estilo mineiro como diria Rubem Braga.

Na cozinha um fogão à lenha com suas panelas preta de ferro, onde sempre tinha uma guloseima para embalar as noites frias daquela cidade. O mingau de fubá com bastante queijo branco raspado e canela, era a preferida daquela família. Nestas reuniões as noites eram embaladas de causos de assombrações e mortes e ora brincadeiras de adivinhações ou charadas, tendo como prenda alguma guloseima a mais ou isenção de alguma tarefa do cotidiano. Eram felizes assim, vivendo numa simplicidade e perfeita união.

Certa noite, ali reunida em plena quaresma, se revezava em causos cada um mais cabeludo que o outro. Era comum naquela época de pouca ou quase nenhuma luz elétrica, os casos arrepiantes. Sempre alguém buscava a confirmação com um presente, que prontamente jurava ser verdade ou ter visto também, às vezes usavam pessoas de outras ruas ou cidade vizinha. Assim desfilava pela noite, as mulas sem cabeças, o lobisomem, a mulher de tábua, o homem do saco e outras tantas crendices daquela época.

Nesta noite já alta um barulho estranho rompeu aquela paz. Vinha de cima do telhado do galinheiro. Como era de folha de zinco o barulho era terrível de unhas de alguma besta sobre o telhado e ainda emitia uma espécie de ronco. Como a cozinha tinha apenas uma porta com ligação para a casa, houve um engarrafamento de gente no salve quem puder, e eu menino fiquei a chorar de medo. Quando para alivio vi meu destemido pai em plena gargalhada, pois sabia que era a volta de um pato fujão, que tinha saído pelo dia e naquela hora da noite voltava, voando e pousara sobre a cozinha, para ter acesso ao galinheiro.

Passado o susto e retorno dos mais rápidos na fuga em meio a gargalhadas e explicações, a família decidiu que aquele pato fujão deveria ter suas asas aparadas e que seria o prato principal no final de semana. Foi assim, que no domingo próximo bem cedo minha mãe sacrificou aquele pato como ingrediente principal do famoso e gostoso prato Pato com arroz (onde o sangue da ave é usado na feitura do arroz), que ficou uma delicia. Ainda hoje quando nos reunimos o pato vem nos assombrar.

Toninho

24/11/2011.



Esta foto de um prato com o famoso Pato no arroz.


Com esta historia real participei de um exercicio
"Cada dia uma historia" no excelente blog da Norma Emiliano
onde tenho certeza, todos nós que a seguimos,aprendemos
muito com sua generosidade aplicando suas experiencias
como Terapeuta Familiar. 

Não deixe de acessar no link abaixo.



Imgens do Google.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Haikais III





Voz de Moçambique
Flamingos anjos dos ventos_
Retorno do Sol.








 
Inspirado no blog de Vivian: 


"Só as vozes africanas autênticas sabem, que o flamingo faz o sol voltar a brilhar,
 depois de um período de trevas e opressão." Mia Couto.






 Som pela noite
Saco de leite pelo chão
gato consome.







Inspiração no blog de Elisa:
 http://pintandohaikai.blogspot.com/

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Linda interação de Calu: http://fractaisdecalu.blogspot.com/

Ensolarado vôo,
traz nas asas
flamingos de Sol!
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Os blogs citados merecem uma visita.