sábado, 16 de junho de 2012

No fim do arco-iris.

Lembranças de uma infancia, feita de crendices
supertições e medos, que bem funcionavam como
freio para as peraltices,que eram muitas.









A estrada se abria a minha frente...
Embrenhei pela alameda de imensas arvores que as copas se encontravam em forma de imenso túnel, com raríssima passagem de raios solares, isto logo após uma chuva de verão. Estrada de terra que exalava aquele cheirinho bom, que muito lembrava as viagens para a casa da avó. No meio daquela abundancia verde predominava o frescor. Sentia atraído como imã era a vontade de querer ver onde a estrada iria dar. Quanto mais andava mais sentia atraído e embriagado pelo cheiro de mato.

Ao longe um clarão sinalizava o fim desta estrada comprida. Em alguns trechos os raios solares irrompiam a folhagem, criando um visual fantástico. Era lindo tudo, mas eu morria de medo. As arvores eram silenciosas testemunhas de minha emoção. Às vezes eu olhava para trás e nada alem de arvores, apenas alguns gorjeios de pássaros e sons não identificados de outros espécimes. Por entre arvores podia se ver um imenso campo verde com raros arbustos onde vários animais pastavam tranquilamente.

Caminhar era preciso e segui a assoviar em meio àquela solidão, quando percebi, que estava sendo imitado ou seria apenas o eco de meu assovio na solidão de meu medo. O medo falava por mim. Em certo trecho de folhagem escassa vi o rastro de um arco-íris num belo espetáculo de sete cores. À minha direita ele se debruçava no campo, mergulhando numa lagoa. Dizem que nesta lagoa teria um tesouro num pote de ouro. E me perdi em lembrança da infância interiorana das Minas Gerais com suas crendices e supertições, que afirmavam ser perigoso passar debaixo de um arco-íris, pois trocaria de sexo. Aí eu morria de medo e não desafiava.

Mas a curiosidade de criança é fogo ardente. Como não ver o fim desta estrada? Assim rompi com todas as crendices e supertições e decididamente avancei com passos largos e quando estava quase debaixo daquele lindo facho multicolorido, senti uma mão fria, que me puxou fortemente pelo braço. Tomado de um susto terrível, vi minha mãe com braços molhados de lavar roupas a me chamar para ir à escola. Eu estava molhado e o colchão também e não descobri a verdade sobre os arco-íris, nem da estrada. Era apenas um sonho.

Agora este colchão de capim colocado sob o sol no quintal, vem me alertar que menino que brinca com brasas e tição da fogueira de São João faz xixi na cama. 

Toninho.
13/06/2012.  

Informação:

Imagem: alameda de plátanos (flickr)
Inspirado na imagem que ilustrava o texto “Acertando o passo” de nossa querida amiga Calu do blog: sugiro conhecer no link abaixo.

http://fractaisdecalu.blogspot.com.br/   

 

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Pelas ruas da cidade.










Na noite de Natal, as ruas enfeitadas com bolas douradas em meio à predominância das cores verde e vermelha. Vejo pessoas sorrindo com embrulho de presentes outras com tabuleiros de alguma coisa assada em uma padaria. O clima de Natal, alegria pela cidade. Sigo pelas ruas estreitas de pedras polidas de minério de ferro como equilibrista sobre o desnível natural das pedras escorregadias, mas o que mais assusta é sentir e ver o desnível do poder de aquisição estampado ali na minha caminhada até o ponto de taxi mais próximo.

A noite de Natal tem esta uma substancia que amolece o coração, a sensibilidade se faz perceptível, é comum encontrar pessoas tristes, acotoveladas em balcão de bares se entregando numa dose a mais, ilusória emoção de afastar as lembranças e ou saudades de pessoas queridas e ou amadas, que talvez nunca mais recebam suas lembranças e ou seus abraços e beijos numa noite de Natal. 

Já próximo da praça vejo um taxista solitário na espera do último cliente, antes de seguir para sua casa na noite da festança. Abro a porta, lhe desejo Feliz Natal, que ele retribui automaticamente. Pergunta sobre meu destino, imagino que ele pensa ser próximo da região de sua casa e assim fechar com chave de ouro a sua jornada. Respondo que vou para o hospital, no que ele se volta para trás com ar de interrogação, mas nada fala. Sem mais palavras liga seu carro, e o radio, a tocar musicas sertanejas e seguimos em direção ao hospital. No trajeto vou olhando pelo vidro embaçado, as luzes piscando lentamente nas casas e ruas. Mas dentro do taxi apreensivo e triste vou com meu coração molemente ancorado nas ultimas esperanças, de encontrar com vida o meu amigo vitimado pelo transito naquela noite.

Toninho
08/06/2012

Apenas inspiração.
Este foi o exercício Nº 3(ultimo da serie) para Criar uma historia com base na frase de Carlos Drummond de Andrade: Meu coração vai molemente dentro do táxi.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Enamorar













Para o amor sobreviver com união,
Há que vir atrelado à tolerância,
Que lhe dá têmpera na convivência
Para suportar a inevitável corrosão.

Na forja que ativa toda esta emoção,
Que o amor adquire sua linda forma.
Assim como no fogo, aço se transforma,
Pode a desconfiança fundir a relação.

Alimente seu amor com cumplicidade,
Releve o ciúme, que carrega a maldade,
Pois só assim se vive amor de excelência.

Quando se entrega por ele até às raízes,
Viverá o enamorar feliz dos aprendizes,
Na convivência amorosa da essência.


Toninho.
12/06/2012.

Feliz dia a todos que se enamoram e sonham com anjos e viajam com as estrelas e se entregam em noite de luz cheia.

Pensamento:

Não há ninguém, mesmo sem cultura, que não se torne poeta quando o Amor toma conta dele. Platão

Convite:
Tem celebração do amor em : http://pensandoemfamilia.com.br/blog/

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Viagem solitaria no elevador.











Zezinho nasceu e vivia a infância feliz na roça, livre para ser criança, apenas vigiado pelos olhos da mãe com seus conselhos. Todos se conheciam pelo nome dos pais. Ele era Zezinho de Sô Chico.  Alem de brincar, as atividades, como cuidar do galinheiro, molhar a horta, tratar dos animais. Nos fins de semana a rotina às vezes era alterada com visitas de parentes da cidade, com suas historias. Mas para ele, não eram mais importantes que as suas, mas ficava curioso com elas.

O que mais o alucinava era ouvir sobre os elevadores, que levavam as pessoas que moram nas alturas e que eram mais rápidos do que subir nas arvores. Para Zezinho era impensável uma casa sobre a outra, com altura dez vezes maior que o pé de coqueiro. Este sonho ele levava no seu embornal de curiosidades. Sempre questionava a mãe, se era verdade a tal maquina e as casa sobre as outras.

Na época de uma vacinação na década de 60, viajou para a casa dos parentes, para tomar a tal vacina. Seu coração não cabia no peito. Depois da longa viagem, chega à cidade. Os olhos se maravilhavam com tudo, carros, prédios, bonde e muita gente. Estranhou a pessoas sem as saudações cordiais da roça. Ao chegar ao prédio, olhos embutiram entre alegria e medo. Segurava no vestido mãe, o suor nas mãos, o coração agitado. Primeira viagem para as nuvens com pessoas ainda mais estranhas mudas e sisudas que olhavam para o nada. Logo pensou na roça e sentiu saudade da roça cordial, onde todos se cumprimentavam.

Após alguns dias já de volta à roça, sentia dores no braço vacinado, que coçava como picada de formiga mijona. Sua mãe cuidava colocando uma folha da horta. Feliz em sentir o ar fresco pelos pulmões, falava com os pássaros os imitando, ouvia latidos de Capitão a brincar com o porco. Brincou com o gato Xadrez lhe roçando as pernas. Seus olhos brilhavam com lagrima de felicidade. Mas a mãe percebeu nos dias seguintes, que ele ficava horas parado, olhando para o alto do coqueiro, como se visse ou procurasse algum bicho. 

Intrigada perguntou:

- O qui ocê tanto óia no arto do coqueiro Zezinho?
_ Né nadica não mãe, é que eu tava pensano no elevador cá na roça, mas quando nós tava lá no elevador pensava na roça cá. Só isso mãe.

Toninho.
04/06/12

Outra participação no blog: escritosnalinguagemdocorpo.
Criar uma historia baseada na frase de Carlos Drummond de Andrade:
No elevador penso na roça, na roça penso no elevador.
 
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Informação:
Agora peço a todos os amigos, que dediquem suas orações 
à amiga Márcia Luconi, que enfrenta a dor da perda de 
seu marido, pelo qual oramos. Enviem forças para que 
ela possa refazer suas energias e voltar para nosso meio 
e tocar sua vida, como deve ser. Realmente não temos 
palavras para essa dor, mas temos todo nosso carinho 
para inundarmos os corações de nossos amigos.