Quando
você solta sua voz em critica ferrenha e discriminatória sobre a transposição,
talvez não conheça ou ignore o que é a seca, que avança sobre os sertões, com um
rastro de mortes já descrito por Graciliano Ramos em Vidas Secas em 1938. Há
uma degradação moral dos sertanejos e nordestinos sempre ocultos pelos meios de
comunicação, preocupados mais em enaltecer a beleza da orla para o turismo.
Dar
as costas para a vida dos sertanejos queimados e estragados pela fome, pela
falta de água com certeza não vai ajudar em nada tão pouco a minimização da
fome que se espalha pelos sertões do país, que ainda convive com o polígono da
seca como fonte de recebimento de recursos que sabemos são desviados e perdem
seus objetivos. O Brasil não é só litoral é muito mais do que qualquer zona
sul, já dizia um cantor.
As
imagens da seca são filmes de terror, ferem os olhos, inundam o chão estorricado
com lagrimas. O sertanejo persevera na teimosa fé pelas chuvas, que cada vez
mais se escasseia. A chuva parece se esconder deste povo teimoso, que se delira
por um carro Pipa com a sagrada água milagrosa. Mas ele muitas vezes se desvia para uma
fazenda de um politico ou apadrinhado. Nem mesmo São José com as chuvas de
Março tem privilegiado a região e fechando o verão sem uma gota no chão.
Pense
num chão estriado como feridas abertas, ansioso pela miraculosa agua, que lhe
dê vida, que faça florescer o Mandacaru com sua linda flor, que alimenta os últimos
animais e assim o sertanejo vê seu gado morrendo sobre a terra árida. A água salobra que ele busca num açude longínquo, pouco serve para o que resta de
família e que ainda compartilha com os últimos animais.
A
seca é perversa e cada vez mais com os desmandos sobre a natureza, ela toma uma
forma de mensageira da morte. O país precisa pensar grande um combate aos
horrores das estiagens cada vez mais agressivas. O êxodo antigamente era
solução para alguns que muitas vezes abandonava sua família com promessa de
volta e hoje com crescente desemprego que assola todas as regiões ricas do
Brasil, frustra esta perigosa saída em fuga.
Que
transponham esta água possa efetivamente. Façam chegar ao pobre sertanejo, que
em cantos desesperados faz promessas á todos os santos do oratório, aos deuses
da chuva, ao Padre Cícero implora por um pouco de água, que faça a terra
fecundar, que façam os grãos germinarem e assim acender a esperança, antes de
enterrar o seu ultimo animal, um velho jumento companheiro fiel neste miserável
chão.
Tende
piedade deste povo, que dizem ser um forte, mas na realidade agoniza diante da terrível
seca como em 1932.
Toninho.
18/04/2017
tem brincadeira por lá: momentos e inspirações.
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Tenha um bom e
feliz fim de semana.