Onde nasci tinha um rio com aguas livres e limpas. Junto dele fiz minha casinha, para de noite ouvir as aguas, batendo nas pedras como uma canção de ninar. O meu rio sabia a delicia de percorrer entre serras driblando as pedras e mergulhando entre florestas sombrias. A cada queda meu rio ganhava mais energia era assim, que pude vê-lo depois da nascente, onde era apenas uma pequena canaleta de agua. Era assim sua trajetória na sina de morrer bem longe dos meus braços e se entregar nos braços do misterioso mar.
Em
suas aguas o delicioso banho na companhia dos peixes e girinos, mas sempre o
respeitando, quando ele cismava de ficar furioso no período das chuvas de
Março. O rio era meu amigo, onde me
divertia e pescava uma variedade de peixes, que brilhavam quando fisgados nos
anzóis das muitas varas de pescar fincadas e vigiadas por nós naquelas margens.
Com
o tempo o rio ficou doente por causa das agressões dos homens com seus lixos que lançavam sobre ele sem pena e piedade, na mais traduzida forma de
perversidade. Os peixes estavam assustados e cada vez eram menos frequentes e
alguns desciam o rio, já mortos. Era a imagem tenebrosa, que não me sai da
lembrança. Por isso um dia, de tão sujo o rio invadiu minha casa e levou o que
tinha para as aguas, lagrimas e dor, espécie de traição do rio com os
ribeirinhos.
Decidi
minha casa construir lá no alto do morro, de onde eu podia ver os campos, o mar de
montanhas tocando o infinito. Um lugar bonito cercado de arvores, onde pássaros
faziam serenata todas as manhãs após o canto do galo carijó no terreiro. Lá do
alto olhava com pesar, para o que restou do rio agora quase seco, resto de agua
escura fétida, nada mais nascia nas suas margens além da ervas daninha, aquilo
era a imagem da desolação.
Mas
um dia, uma chuva de vento levou o telhado da minha casa. Era a mesma chuva
de Março, que minha casa invadiu e molhou minhas ultimas lembranças em
fotografias do meu rio e do meu vale. Hoje busco na memoria estas imagens de
minha infância feliz ao lado de um rio de águas claras e limpas onde as
mulheres lavavam as roupas, que secavam estendidas sobre a grama e eu menino
ali me divertia de mergulho em mergulho cheio de encantamentos, este rio morreu
pela fúria das mineradoras e nos meus olhos esta gota de lágrima parada,
congelada olha para este mar aonde ele não chega mais.
Toninho.
17/11/2013
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Uma linda semana para voce.
Um rio de lágrimas de alegria em cada dia.