Uma inspiração para o projeto poetizar e encantar da professora Lourdes, que mesmo preocupada com doença em família, veio nos convidar para espalhar poesias pela blogosfera confira filosofandonavida.
Uma lembrança a minha
cidade Itabira-MG no seu aniversário de 170 anos de emancipação em 09/10/2018.
De Itabira carrego saudades,
que me seguem como sombras. Saudades de minha catedral com sua praça com o
obelisco, que chamávamos de pirulito, por onde as procissões contornavam, ou referência
para separar homens de mulheres na procissão do Cristo Morto na Semana Santa. No
adro um paredão com inúmeros furos onde se escondiam as andorinhas, mais tarde expulsas
pelos pardais na usurpação dos ninhos para reprodução. Minhas andorinhas nunca
mais apareceram.
Saudades das
procissões na Semana Santa, mãos queimadas pelos tocos das velas que escorria.
Vivia uma profunda emoção, lágrimas nos olhos ao ouvir o Sermão das Sete
Palavras na procissão de Encontro na voz emocionada do Pe. Lopão(José Lopes) e daquele
dilacerante canto entoado pela Verônica, eu vivia tudo, sentia, sofria na pele.
Saudades das ruas
de pedras de minério de ferro escorregadias, que me fazia perder as pontas dos
dedos no futebol diário. Saudade da dor, de ver o dedo sendo curado por minha
mãe, com apenas sal e limão. Doía, mas no outro dia estava curado. Saudades das
risadas dos passos desengonçados das moças quando perdiam os altos saltos nas
pedras de minhas ruas.
Saudade do brilho
do Pico do Cauê a sua imponência azul naquela serra, onde todos os dias,
assistia o tingir do céu da poeira vermelha após as explosões com dinamites,
que tremiam o chão e agitavam meu coração de menino, que achava linda toda
àquela agitação de sirenes, pessoas correndo, cachorros latindo, vidraças
vibrando, às vezes quebrando, eram como se o Pico gritasse como um leão na
barriga daquela serra. Eu menino nem sabia
que ali estava processando esta saudade que agora sinto.
Saudade dos
comícios animados e engraçados dos dois partidos, de andar de carroceria de
caminhão de bairro em bairro e eram tão poucos, que se faziam numa noite,
menino seguindo gente grande na noite sem perigo da cidade, tudo era festa.
Saudade de colher
as Gabirobas na serra de frente de casa onde hoje fica a casa restaurada de
Drummond. Saudades de nadar nos rios e lagoas sem medo da xistose, passear
pelos pomares na procura de Jabuticaba na chácara da Cia Vale do Rio Doce ou lá
na fazenda Pontal da família de Carlos Drummond. Ah, esta saudade que sinto,
desta Itabira que me faz hoje viver nesta distancia, coletando fragmentos, que
minha mente insiste em servir no prato de barro, que buscava naquele brejo que
não mais existe.
Ah, eu não queria sentir
esta saudade dolorida, mas não tem jeito, pois cada vez que me vêm estas lembranças,
há uma certeza, que há uma degradação pelo progresso sem controle de processos,
nada preservou, resta apenas esta parede sem brilho, este buraco, esta serra
careca, esta velha Maria Fumaça sem apito, sem fumaça, mal cuidada na entrada de
minha cidade. São estas constatações que doem muito mais do que estas
recordações que agora me acompanham.
Ah, eu não queria,
mas como podem ver, eu não sei viver sem estas lembranças de uma Itabira que
talvez só exista em minhas memórias, mas como dói.