Numa manhã de agosto
Jota acordou cedo, preparava o café, quando ouviu barulho vindo do sótão.
Pensou nos gatos da vizinhança, fez o chamado tradicional bichim... bichim. Como
resposta ouviu risos do pai, descendo do sótão com uma caixa escurecida pela
fumaça do fogão à lenha. Após a benção quis saber, o que ele tinha na caixa.
Disse que estava à procura de papeis antigos. Tomaram café e foi para seu
trabalho.
Durante a manhã
pensou no pai saindo do sótão, e dizia baixinho, que velho é cheio de manias,
mas entendia. Aquilo ficou martelando sua mente, fazia tempo que ele não ia ao
sótão. Quando voltou do trabalho, a mãe relatou que o pai passou várias horas
no quintal, remexendo a caixa e que vez ou outra, ouvia um apito, mas que não
identificava e que ele afirmava, não ter ouvido nada.
No dia seguinte Jota
recebeu ligação urgente. Reconheceu a voz da mãe. Logo imaginou coisa ruim, pois ela não ligava.
Ao falar notou que ela chorava, dizendo que o pai havia sumido após remexer a
caixa e não aparecera para almoço. Jota saiu pelas ruas a procurar e perguntar
às pessoas. Pensou em suicídio, já que o pai estava chateado com a demora de um
processo de ajuste da aposentadoria junto à Previdência, já uns dez anos. Lembrou
de passar pela estação, onde ele ia sempre rever as locomotivas e velhos
amigos.
Ao aproximar da
estação, ouviu um apito estridente e continuo. Quanto mais se aproximava, era mais
alto. Quando chegou junto ao muro, levou um susto ao ver o pai com um apito
brilhante, soprando e acenando para um trem em manobra. Um funcionário disse,
que ele invadira a pista com o apito. Correu sobre a linha e abraçou o pai, retirando
dos trilhos. Ele chorava e dizia a Jota, que queria mostrar, que podia comandar
os trens.
No outro dia cedo com
a mãe e o pai pegou o trem para a capital para consulta ao psiquiatra. Vários
exames e testes comprovaram sanidade mental. Que fora apenas uma crise
emocional pela perda de um irmão num passado distante. Então o pai tirou do
bolso o apito amarrado a um broche de Honra ao Mérito e disse que aquele apito,
o acompanhava deste a morte do irmão numa estação e que rever o objeto naquela
manhã do sótão fez um filme passar na sua mente.
E com um sorriso
largo viu o trem que chegava apitando na curva da estação, para leva-lo de
volta ao seu interior de calma, longe das buzinas e fumaça da capital.
Agora aquele apito
fica escondido com a mãe para evitar alguma recaída.
Toninho.
Reedição de outro
blog
Em 21/09/2011.
Grato pela visita.
Boa noite de paz interior, querido amigo Toninho!
ResponderExcluirFaz 3 anos desde que minha tia amada se foi que nao ouco um apito de trem, nao cruzo uma Estacao ferroviaria. Era de mes a mes quando ficava uma semana com ela.
Que saudade me deu agora!
Imagino que sua historia foi inspirada em base ao que viveu com os trens de MG.
Ainda bem que a historia terminou bem para o homem e para a esposa.
Conto muito bonito de um caso que pode acontecer com qualquer um ter bum surto psicotico
Tenha um final de semana abencoado junto aos seus!
Bjm carinhoso e fraterno de paz w bem
Um belo texto e boas partilhas!!! Bj
ResponderExcluirLindo e bem inspirado,com ares de realidade...Gosto sempre de te ler e [há objetos que marcam e outros até perturbam as lembranças...abração ,lindo fds! chica
ResponderExcluirFantástica postagem!!
ResponderExcluir.
Afeição aos silêncios.
Beijo e um bom fim de semana.
Que texto lindo . Adoro
ResponderExcluirabraço
A gente saudade, e a saudade às vezes causa essa melancolia, essa loucura temporária.
ResponderExcluirBonito texto, Toninho!
Abraços, bom final de semana!
A saudade veio forte trazida pelo apito que há muito estava guardado. Belo texto, amigo Toninho.
ResponderExcluirUm bom fim de semana.
Élys.
Um belo texto, que nos agarra da primeira à última palavra... e que nos alerta, para a atenção que deve ser dada aos transtornos emocionais... e de que ninguém está livre!...
ResponderExcluirExcelente trabalho, Toninho! Gostei imenso de ler!
Beijinhos
Ana