Os meninos da rua da
vila operária sabiam, que naquele dia tudo era proibido ou tudo era pecado. O
dia se apresentava nublado até chovia, o azul fugia do céu, as lojinhas,
bodegas e armazéns estariam fechados, o comercio era proibido. Era Paixão de
Jesus Cristo. Na igrejinha os santos cobertos com pano roxo.
Naquele dia não podia
jogar bola, nem brincar de finca, esconde-esconde, nada era permitido. Era um dia
sombrio, nas casas apenas rodava o disco de vinil Paixão e morte de Cristo, que a gente já decorara. Não tinha
televisão, a gente recriava as imagens do sofrimento de Cristo. Odiávamos Judas
e Barrabás. O centurião era outo odiado.
Como não bastassem as proibições,
tinha que jejuar até à ceia, que era farta de bacalhau em todos os pratos, como
abobora, quiabo, chuchu e algumas casas até torta de bacalhau. Bacalhau era
coisa de pouco valor. Na mesa farta tinha doces de batata doce, goiabada, farinha
de amendoins, marmelada, doce de mamão, laranja e não podia falta o famoso queijo
mineiro na sobremesa.
A sexta-feira era fúnebre,
morria o filho de Deus, traído por um discípulo próximo. Os meninos sonhavam com
o Sábado de Aleluia, para montar com roupas velhas o Judas, cheio de explosivos
juninos. Judas era maltratado, incendiado no sábado à noite. Eram vingativos os
meninos da rua da vila operaria.
Hoje nada restou, a
radiola emudeceu, a televisão mostra encenações dos sofrimentos de Cristo. Os
meninos estão ocupados com smartphones ou vídeo games. Perdeu-se no tempo a
tradição e catolicismo. Pela cidade encontros de familiares, regados com muito
vinho e cervejas. Dizem até, que é um dia de muitas ocorrências de violências.
Os meninos daquela rua não mais jejuam, nem confessam pecados aos ouvidos do temível
padre José Lopes.
A mesa dos meninos
empobreceu, o bacalhau fugiu e deixou uma imitação no lugar, o peixe escapou
com os elevados preços de uma vil especulação em contraste com a data de paixão
e amor solidário. Mas ficou a alegria de saber, que no domingo renascia o filho
de Deus. Aleluia, aleluia!
Toninho
20/04/2025
Grato pela visita.
Uma
Feliz Páscoa para você!
Que
o amor e paz
Renasçam
nos corações.
Quantas verdades no teu lindo texto! Tudo mudou mesmo,Toninho! Aquele silêncio de outrora, desapareceu...
ResponderExcluirMas não mudam os desejos sinceros, ainda bem!!!
Que a Páscoa seja abençoada, alegre e feliz !
🐰🌸🐰🌸🐇🌸🐇🌸
abração , chica
Há coisas que mudaram para melhor e muitas para pior.
ResponderExcluirAs encenações da igreja eram de mais.
Nunca me dei bem em passar do luto para uma grande festança...
Tem um Domingo de Aleluia Sereno e Santo.
Abraços de paz e luz.
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Bom domingo Majo, já chorei nas procissões de encontro de Jesus morto tal era a eloquencia do padre.
ExcluirBjs
Quando menina, a procissão da Via Sacra punha-me a tremer e fugia dela como o diabo foge da Cruz...
ResponderExcluirAleluia!... Bjs
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Só rindo com você Majo,kkkk
ExcluirTemos que rir, para aliviar as amarguras e os amargores...
ExcluirUm abraço, estimado amigo.
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Quantas verdades nesse belo e reflexivo texto! A semana santa de outrora se perdeu em alguma curva do progresso. Poucas famílias cumpre à tradição. Esse ano para nós foi muito triste e saudosa nossa Semana Santa, sem pai, sem mãe, sem tia, só eu, minha irmã e uma prima que decidiu vir viver o luto de tia conosco. Mesmo só nós três embaladas pela saudade, cumprimos com a tradição de viver esse período com fé, respeito, devoção e esperança.
ResponderExcluirBeijos e feliz Páscoa!
Passo exclusivamente a fim de ver, ler, elogiar, e deixar expressos os meus votos:
ResponderExcluir.
“” De uma Feliz e Santa Páscoa, extensivos à sua família e amizades.““
.
Boa tarde Mineirinho
ResponderExcluirQuanta verdade neste texto.
Gostei muito do que li e que merece uma reflexão sobre o mesmo.
Deixo um abraço!
:)
Olá Toninho , vc descreveu com clareza a sexta-feira santa da minha infância . Bares não abriam , muito menos carros saiam pelas ruas . Minha mãe falava que ão era nem pra exagerar em varrer a casa. Era luto mesmo , respeito pelo Senhor morto . Hj fazem churrascos e reuniões exacerbadas de famílias diante da sopa de lentilha e bacalhoada ( quando se odia comprar bacalhau ,rsss). É , muito mudou. Bem reflexivo seu texto. Mas , um Feliz Páscoa ainda se ouve desejar . Que de renascer os próximos tempos . Abraços .
ResponderExcluirOlá, Toninho, que belo e verdadeiro texto! Emociona.
ResponderExcluirEram assim mesmo as Páscoas de outros tempos, hoje... tão diferente! Mas nos corações mais cristãos, esta data continua igual, mais amor e Fé neste Dia tão especial e tão marcante. O sacrifício de Cristo pela Humanidade.
Feliz Páscoa junto à sua família!
Beijo, amigo.
Olá.
ResponderExcluirTexto muito bom, cheio de velhas lembranças de outras páscoas. Tenho reparado que a tradição de "malhar o Judas" foi se perdendo mesmo com o tempo. E lá nos anos 80 e 90 faziam sucesso personalidades mal vistas, principalmente da política, como sendo o Judas que era malhado no sábado. Acho que hoje seria até "politicamente incorreto" a malhação do Judas, certamente alguém dirá que é "discurso de ódio".
Gostei muito da sua história. Voltei à minha infância e encontrei a menina assustada com os castigos anunciados.
ResponderExcluirUma boa semana.
Um beijo.
Olá, querido amigo Toninho!
ResponderExcluirJesus vive, aleluia!
Um conto bem se apresenta a realidade...
No interior, a fé e devoção é linda e fervorosa, como nosso Deus merece.
Um lindo conto de devoção verdadeira de quem sabe das coisas de DEUS.
Tenha uma Oitava de Páscoa abençoada!
Beijinhos festivos pascais
Agradeço os votos formulados.
ResponderExcluirEspero que tenha tido uma boa Páscoa.
Abraço de amizade.
Juvenal Nunes
Boa noite, Toninho.
ResponderExcluirEmocionei -me ,lendo o teu fabuloso texto!
Senti-o como meu! Rebobinei o filme da minha infância e adolescência em que a sexta-feira Santa era "medonha", triste.
Íamos com os pais às cerimónias na igreja e hoje tenho saudades desse tempo!
Nada será igual, nem parecido!!!
Obrigada por este momento!
Beijinho e óptima semana. 😘
Olá, amigo Toninho, parabéns pela excelente crônica sobre esta importante data para o
ResponderExcluirCristianismo, na qual você conta como era tempos atrás comemorada esta data, a Sexta Feira Santa, muito diferente como você ressalta, como esta data é comemorada nos dias de hoje, principalmente no que se refere as crianças e adolescentes que vivem grudados nos seus celulares. Bravo, cronista e poeta!
Uma boa continuação de semana,
grande abraço, amigo.
Verdade, quase nada sobrou daquele tempo. Fica a saudade e as lembranças. Um abraço!
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