Era um dia destes em que a gente se sente que tudo conspira, para que sintamos como quem partiu ou morreu...
Dia em que você estanca como na sua Roda viva.
Então me aparece o Gilberto Gil numa malemolência filosófica, que eu precisava de um tempo rei, para que houvesse uma conquista. Que viria de uma explosão quântica sideral. Eu quase nada entendi, mas prossegui, pois acreditava ter entendido o caminhar com a fé, que segundo ele não costumava faiá.
Foi nessa fé, que fiquei feliz ao encontrar Gal Costa, que dizia que alguém me daria sorte na vida, pensei com meus botões, que maravilha estava a dizer esta menina porreta. Que mais poderia querer?
Assim entrei no Café do Ponto e dou de frente com Gonzaguinha, sentado num banquinho de ponta de balcão. Um copo pela metade, o violão recostado, um cigarro acesso da fumaça que subia. Ele fazia apologia sobre um lindo lago azul, onde se poderia viver feliz, eternamente feliz todos os sonhos. Gostei e fiquei a pensar, como está esperançoso o moleque filho do Velho Lua. Vivendo nesta esperança sem vergonha nem medo de ser feliz, assim como um eterno aprendiz.
Procurei uma mesa para me acomodar, busquei por uma vazia num canto daquele sonoro e empolgante bar. Na mesa um Herman Torres um pouco roto pelo tempo, aberto como bíblia em casa de católicos, a página aberta, nas palavras um alerta no mais rigoroso cuidado com a paixão que não encontram os faróis para iluminá-la.
Mas resoluto segui meu dia e fui estar com Ivan Lins numa calçada de praia, o mesmo estava a dar conselhos a um grupo de jovens universitários incentivando-os a querer toda louca liberdade. Que seriam pessoas vitoriosas, sem a vergonha de aprender como se gosta e que a vida com certeza seria maravilhosa... Coisa assim de guru.
Mas como tudo tem seu lado oposto, um pouco além estava o Jessé numa eloqüência nunca vista, discursando sobre tal Porto Solidão, que segundo ele lá é que ficam todas as pessoas, que constroem castelos e não conseguem habitá-los... Só que sonhos devem e podem ser sonhados.
Não suportando tamanha melancolia e desilusão, depressa afastei na direção sul, é quando encontro a Maria Bethania de cabeleira grisalha rodeada de crianças, ensinando como querer viver melhor. Cantarolava como a brincar de viver e redescobria o lugar e nesta a arte de sorrir a cada vez que o mundo lhe disse não...
E a menina com brilho nos olhos, sorriu e estendeu a mão implorando para que aprendêssemos com aqueles que desejavam ensinar, ainda que sejamos entusiastas, encantados, amadores equilibristas das palavras que insistem em cair pelas folhas da vida de nossa poesia.
O que importa?
Podemos ser lua e flor como pensa Osvaldo Montenegro, pode ser ou estar em sintonia como pensava Moraes Moreira, quando escutava uma canção feita justamente pra tocar numa rádio num canto da Bahia, talvez Juazeiro ou Sobradinho, mas que teria poderes de tocar no seu coração.
Mas que pena, que você não sintonizou, e assim nem se ligou ao meu coração, pensava e resmungava a menina.
E foi assim que o João Bosco como um corsário em seu barco, vagando pelas bandas da praia segurando um violão falava de flores do mar usadas numa festa do sol onde serenamente dormiu no colo perfumado de uma linda mulher de tranças longas pelas costas.
Quando despertou em êxtase, acreditava-se que nunca sonhara amar, no mar daquele jeito, ouvindo uma musica, que o Arantes cantarolava lá fora. E assim vamos menina, acreditando que amar valerá a pena, com todas estas ajudas tranqüilas e serenas.
Brincadeira inspirado em escritos de uma nossa leitora/poetisa.
A alagoana Mira Costa.
Obrigado Mira!
Toninhobira
29/09/2010