sexta-feira, 10 de junho de 2011

Férias na casa da Avó.









 Imagem Google.







Férias na casa da Avó.
Da série uma saudade de Minas Gerais


Quando criança sempre estava atento às expressões, então eu ouvia as pessoas dizerem:
- Vai ser bom assim lá na casa da vovó. Logo minha curiosidade aflorava até quando pude ir à casa da vovó em férias lá naquela roça de nome Furtado, onde minha avó morava, ali num cantinho de Itabira, estrada de Santa Maria de Itabira, para onde eu sempre passei a viajar nas férias escolares de Julho e final de ano, isto lá pela década de 60 e 70. A casa da mãe do meu pai. Era o meu paraíso está perto daquela avó, saboreando suas deliciosas iguarias feitas com as coisas daquela roça, assim tudo natural do quintal. De armadilhas em armadilhas saboreava os mais variados tipos de pássaros e animais e peixes. Claro que eu não tinha a consciência de hoje e tão pouco existia esta coisa de defesa dos animais. Os caçadores faziam a farra na floresta farta, com carnes de pacas, tatus, coelhos, Jacu, veados e outros que me fogem a memória. O certo é que nós ficávamos ansiosos pela volta deles com suas caças, dependuradas.

Lá naquele canto feliz, não tinha luz, um rádio de pilha ABC canarinho voz de Ouro, fazia a função de relógio e de sons da linha sertaneja, às vezes inaudíveis, apesar de um arame amarrado pelas arvores e interligado na sua antena.  A água nascia numa grota no pé da serra descendo ininterruptamente por tubos de bambus abertos ao meio até a porta da cozinha, onde tinha uma bica a desaguar numa grande gamela feita de madeira das boas, como dizia minha avó. Água era muito boa, fresca que passava por entre arvores, quase sem contato com raios solares. Sendo que era uma das tarefas de menino naquela casa fazer a limpeza do percurso da água, devido às folhas que se acumulavam nos bambus partidos. Na caída da bica sempre tinha uma lata grande cheia de água, e numa espécie de tarimba sabão de pedra, buchas de palha de milho, lata com cinza, areia que eram usadas para lavar aquelas pretas panelas de ferro, ou de pedra sabão.

Todas as tardezinhas, ela tinha o cuidado de que todos lavassem os pés, que sem sapatos sempre se apresentavam imundos no final do dia. Uma bacia grande era ali colocada, e com água aquecida, fazia uma mistura para que lavássemos os pés, para se preparar para dormir, pois ali se dormia quase que com o horário das galinhas e dos pássaros, coisa de lugar sem luz e sem vizinhança por perto. Bastava o sol sumir ela já estava com o jantar esquentando. Ali o breu era total e assustador, exceto em noites de lua, em que dava para ver o terreiro de café que ficava ao lado da casa, num caminho que dava saída para a localidade chamada Sapucaia e também saída para o córrego onde a gente se banhava todos os dias quando pescávamos Lambaris, bagres, Mandis, traíras.

Mas a casa dos meus sonhos ficou no tempo, perdida entre pés de café, mexericas coqueiros, mamonas e os pés de mandioca. Já não se vê o terreiro de café, nem mesmo aquela bica existe mais com o tempo apodreceu, virou fogo em cinza se transformou, canos de PVC substituíram minhas varas de bambus, aquela famosa gamela de madeira boa como dizia minha avó, virou uma lavanderia de dupla bacia toda de cimento moldado e água já não jorra ininterruptamente, tem uma torneira. Os pássaros, os animais foram sumindo com seus cantos, fugindo do barulho, da presença humana. A minha memória registrou e não se apagou das coisas que vão se perdendo. Saudoso aqui vai revolvendo estas lembranças lhes dando vida e assim vivo minha não perdida feliz infância.

 Hoje naquela roça as moças já não precisam mais lavar seus pés em bacias, trancadas em um quarto qualquer da casa. Fartam-se numa ducha, pode se olhar no espelho anti-embaçante dotado de radio FM ouvindo uma canção, que fala das coisas do coração. Mas meus pés hoje cansados, calejados pelos sapatos, botinas, chuteiras ao longo da vida, mais se parecem frágeis papeis, mas ainda pressente da saudade daquela água quentinha jogada pelas canelas, nas tardes na casa da Avó Iracema.
Ah, como eu queria voltar e encontrar tudo como eu deixei.
Como era bom na casa da vovó.


Toninho.

quarta-feira, 8 de junho de 2011












Da série uma saudade de Minas Gerais.

As lobeiras em flor na serra encerram fartura.
Daqueles temíveis lobos uivando em lua cheia
Fruta redonda muito estranha e nunca madura
Saborosa para eles que em bando faziam a feira

Quando menino ela era a única bola que se tinha
 Dura para nossos pés descalços, unha extraída
 Festa das crianças qual lobos naquela serrinha
 Catando gabirobas, lenhas assim era nossa vida.

Hoje olhos tristes vêem a minha serrinha saudosa  
Sem lobos, arvores e gabirobas, serra ultrajada
Foram se os medos dos lobos na lua cheia vaidosa
Fogo, invasões e dinamites deixaram-na pelada

Dinamites levaram minha infância na explosão.
Agora apenas esta estranha coisa aqui no peito.
Ao longe ainda ouço o apito do trem na estação
Saudade brutal grita pela serra no desrespeito.

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- Uma reedição modificada de texto postado no Recanto das Letras.
 
Obs.1
-O bairro onde fica esta serrinha lá em Itabira-MG, é conhecido como Berra Lobo pela existência destes canídeos até os anos 60, embora seu nome seja Campestre.

Obs.2
-A fruta de lobo com propriedades calmante, diurética e atiespasmódica, ela auxilia nas cólicas abdominais, renais e na excitação nervosa. Porém, seu principal uso medicinal é no tratamento da diabetes. 

Obs.3
-Naquele tempo de fogão a lenha, era uma atividade dos filhos buscá-la nos matos próximos.

Toninhobira
06/06/2011.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Carrego minhas saudades.







imagem do Google.






Minhas saudades vêem com o cheiro de mato
Mescladas na terra molhada na vassoura de alecrim
Que na grota nasce e perfuma os caminhos que faço
Para buscar água que dava vida ao pequeno jardim.

Saudades de um lugar bucólico encravado numa serra
De onde eu posso enxergar o infinito de meus sonhos
Que sempre vem em forma de lembranças da minha terra
Ora se vestem de alegrias, mas às vezes em trajes tristonhos

Saudades agora guardadas nesta pequena sacola de pano
Resto das camisas do meu tempo de aprendiz no SENAI
Que leva linda engrenagem vermelha no primeiro plano
Minha saudade profissional no embornal do brim caqui.

Outras que ainda me chegam, vem com o frescor do regato
Com suas águas cristalinas que se vêem belos seixos rolados
Que na fachada da pequena casa e jardim era lindo ornato
Criando com flores tão belas estes caminhos ordenados

Então sinto minhas mãos nervosas a vasculharem agora
O embornal das lembranças que carrego com cuidado
E nesta algazarra recria o menino sonhador de outrora
Pensando na sua infância com olhos ternos num passado.





Toninho.
04/06/2011

Embornal:
Sacola confeccionada em tecido grosso (lona, mescla, brim),
 com alças laterais do mesmo tecido, usada a tira-colo. Eram muito utilizados lá no meu interior pelos anos 60, muitos eram feitos das pernas de calças velhas e ou camisas.

SENAI: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial  destinado a jovens entre 13 e 15 anos e na minha cidade era mantido pela CVRD (VALE), que nos pagava metade do salário mínimo neste aprendizado destinado a preencher seus quadros.