Naquela noite de frio
intenso, eu seguia pela rua em direção a minha casa no ultimo quarteirão desta.
A cidade é cercada por serras e por um rio, que faz maior a sensação de frio. Havia
“serração” (densa neblina) que cobria a cidade e deixava tudo translucido. Notei
o vazio e silencio das casas sem nenhuma janela aberta para a rua. Parecia noite
mal assombrada, destas que contavam na Quaresma. Nem mesmo os cães se ouviam os
latidos, nem os gatos ruidosos eram ouvidos.
A rua era calçada com pedras
de minério de ferro, o Itabirito, que com o tempo tornaram-se polidas e
brilhantes. Com o sereno noturno brilhavam como fosforescentes. Andar por ela
era conviver com escorregões e quedas. Esta rua era um terror para as mulheres
com sapatos de saltos finos. Algumas eram habilidosas equilibristas, outras não.
Logo torciam pé e sofriam quedas seguidas de risos de transeuntes ao ver a preocupação
delas em não mostrar suas roupas intimas. Vale saber que mulher naquela época,
só usava longos vestidos e famosas saias plissadas, exceto filhas de
fazendeiros, quando montadas em seu seus cavalos, trajavam calças compridas, chapéu
e botas longas. Era lindo vê-las com seus cabelos soltos sob o chapéu com um laço
vermelho no pescoço.
No final da rua ficava a igrejinha
da vila e o armazém da empresa mineradora, logo esta rua tinha movimentação
maior, principalmente nos horários das missas, novenas ou das quermesses do ano.
Era uma rua com casas dos dois lados
sendo numero par para as casas da direita e impar as casas de fundo para a
serra. Tinham mesma arquitetura e todas elas tinham uma varanda pequena ao nível
do solo na entrada da casa, que chamavam de alpendre. Eram todas da empresa
VALE, nelas moravam somente operários, que trabalhavam na exploração de minério
na mina de ferro. As casas que ficavam de fundo para a serra, eram elevadas do
nível da rua, tinham muro de contenção, onde eram instalados postes de ferro da
iluminação, algumas possuíam escadas de seis a dez degraus.
Próximo da meia noite eu
já estava no alpendre de minha casa e dei uma ultima olhada para a rua, quando um homem atravessou a rua no
quarteirão acima, chamou atenção a roupa toda branca inclusive os sapatos. Era
alto e não parecia um morador vizinho. Fiquei curioso a observa-lo, mas a
distancia e a péssima iluminação não ajudavam muito. Quando ele se posicionou sob
um poste, notei que era magro, usava óculos. Seu chapéu preto
destacava naquele branco. Levava na mão direita uma pasta preta e na
outra uma bengala ou guarda-chuva. Ele posicionara em frente à casa
do Zé Agripino, e conferia alguma coisa. Ele subiu as escadas e sumiu da visão. Pensei ser um
medico para consultar a mãe do Zé, que não gozava de boa saúde, achei estranho
um medico naquela hora sem usar carro, mas sentindo muito frio entrei para
minha casa.
Pela manhã quando todos
esperavam o caminhão, que nos levava para a mina de minério, aproximei do Zé
Agripino, procurando noticias sobre sua mãe. Ele relatou que ela esteve muito
mal na noite passada com uma canseira terrível, parecia que morreria. Mas que próximo
da meia noite ela deu um suspiro fundo e todos correram para o quarto, mas ao
chegar lá ela estava sentada na cama e rezando e que ao vê-lo sorriu, pediu um
café com bolo de fubá. Eu ouvi tudo,
senti um arrepio, mas não disse a ele sobre o homem de branco, que vira subir a
escada no horário relatado do tal suspiro.
Ele não acreditaria mesmo.
Penso que nem
você caro leitor.
Toninho.
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Para o exercicio do blog: escritosnalinguagemdocorpo usando a afirmativa de "um homem atravesou a rua" ,descrevendo os elementos da afirmativa, para criar um clima.
Puxa, que exuberante conto esse.Adorei tua criatividade e capacidade de provocar arrepios.
ResponderExcluirE ele não acreditaria, mas quem vai dizer o contrário?
Gostei da trama muito bem montada, com todo o cenário! abração,lindo fds! chica
Gostei amigo Toninho e acredito, pois há mais coisas entre o céu e a terra que supõe nossa vã filosofia.
ResponderExcluirBjsssssss,
Leninha
Acho que ele era um banshee - criatura mágica que aparece para alguém quando alguma pessoa da família está para morrer...
ResponderExcluirOlá meu querido amigo, não me leve a mal mas mesmo que seja imaginação da sua parte acredite que eu tenho conhecimentos de casos muito semelhantes. E acredito sim, porque há mais coisas paralá do tempo e do espaço, do que a nossa vã imaginação pode acreditar, gosto muito das sua esrituras que nos dá a ler. tenha um lindo fim de semana com beijinhos de luz e muita paz.
ResponderExcluirOtimo o conto... me lembrou as historias que se conta na roça... muito bom mesmo...
ResponderExcluirQue seu fim de semana seja de paz...beijos Toninho...
Eu arrepiei só de ler amigo rsrs eu não sou descrente, acho possível sim histórias assim! Por sinal muito linda! Abraçosss
ResponderExcluirBoa-noite, Toninho
ResponderExcluirObrigada pelo comentário delicado e gentil deixado no bloguinho.
Muito legal sua história, já ouvi algumas parecidas com esta quando morei em uma fazenda, na época era criança/adolescente e morria de medo.
Grande abraço.
Uuuuui, que meda! rss
ResponderExcluirOlha Toninho, minha mãe era craque em contar essas estorinhas pra gente, pior que era antes de dormir, mas a gente gostava porque naquela época não tinha quase filme de terror e sabe como é galerinha jovem, adora isso!
Muito bem contada sua estória para esta série, passou veracidade, fiquei com olhos pregados até o final para saber o desfecho e, se era pra arrepiar, digo-vos, fiquei.
um super abraço carioca
(E já deixei lá o táxi IV)
Mineirinho, fiquei aqui lembrando das idas para casa da minha avó em Raul Soares. Lá ouvia muitos "causos" assombrosos desse tipo ai de cima. kkkk...
ResponderExcluirMorria de medo e toda noite custava para dormir.
Adorei a história.
Tudo de bom.
Toninnho bom dia , o seu conto é muito bem elaborado levando as vezes ao suspense, para mim é uma historia normal, não ha nada de impossível e vc sab porque,Um final de semana se muita paz, abraços Celina.
ResponderExcluirBOM DIA MEU AMIGO QUERIDO !!!!!!
ResponderExcluirQUANDO ENTRO AQUI,JÁ SINTO O CHEIRO DE ESCRITA QUE ENCANTA...VC COMO SEMPRE SE DISSOLVENDO NOS MAIS BELOS TEXTOS ...VC TEVE ATÉ O PODER DE ME FAZER LEMBRAR DE UM PASSADO REMOTO...LAGRIMAS CAEM E EU TE DOU UM ABRAÇO BEM APERTADO PARA DISSOLVER TANTAS COISAS PRESA NUM SÓ CORAÇÃO...
BJS DE FINAL DE SEMANA!!!!!!
DA SUA ESPOLETINHA ....
Mais é claro que acredito caro amigo, sou espírita e no mês passado, meu marido teve um de seus joelhos tratado num sonho, ele descreveu pra mim toda a cena, uma mulher que parecia uma medica, um homem negro que parecia o mentor de todos e alguns enfermeiros, todos de branco, mexeram no seu joelho esquerdo ( este era o que ele sentia mais dor, estava inchado e tudo). No começo foi dolorido, mas depois ele foi sentindo um alivio e a dor passou. No dia seguinte quando ele levantou sentiu a ausência da dor e do inchaço, ficou pasmo e me relatou este sonho maravilhoso, inclusive com recomendação deles para repouso e até agora o joelho dele esta ótimo, voltou até a malhar, não é lindo! Nossos amigo da luz, estão sempre nos ajudando quando interagimos com ele, ou não, basta merecer. Bjus meu amigo.
ResponderExcluirExcelente, Toninho!
ResponderExcluirLevou-me consigo até à última linha e surpreendeu-me!
Gostei imenso da história.
Que bonita ideia esta de escrever uma história inspirada por uma única frase.
Abraço. Até breve!
Amei, seu texto meu querido amigo. Eu estava lhe devendo uma visita, perdoe-me. Uma leitura muito envolvente que prende a atenção até o final. Um beijo grande no seu coração meu amigo dileto.
ResponderExcluir♡¸.•°
ResponderExcluirOlá, querido amigo!
Adoro essas histórias antigas da minha cidade.
Eu acho que era o anjo da guarda da mãe do Zé Agripino que ao sumir, travou uma luta contra o anjo da morte e o venceu.
Bom fim de semana!
Beijinhos da nossa cidade,
tão diferente hoje e muito mais triste.
✿ °•.¸♡¸.•°✿
Bom sábado pra vc, com muito carinho
ResponderExcluirdeixo meus parabéns por mais esse post lindo...
A amizade faz a gente muito alegre por
ter amigos que gratifica nosso dia
E ter vc na minha lista de presente
eu fico eternamente feliz
Abraços com carinho
Bjuss
Rita!!!
Há anjos por todo lugar.Um destes visitou a mãe do Zé.
ResponderExcluirHistórias que o povo conta tem sua dose de mistério e de verdade.
Causo muito bem narrado, amigo Toninho.
Bom domingo.Paz e Luz.
Abraços,
Calu
Me contou. Teu conto me descontou, me desmentiu, sem desacreditar.
ResponderExcluirTalvez as ruas sejam beiradas que o abismo interrompeu de seguir. Ou não.
Ilusória constatação. fosse um anjo disfarçado de gente, meu senhor?
Quem sabe, quem saberá dizer, minha senhora.
Ameiiiiiiii amigooo.
Um show!
Beijo na alma,
Sam.
Olá querido Toninho!
ResponderExcluirVim fazer uma visitinha aqui no seu cantinho.
Belo texto!
Uma semana de muita paz pra você amigo. Acabei de vir do blog da Vera Duarte que aceitou a sua proposta,e que eu achei maravilhosa, assim conhecemos um pouquinho mais dos amigos blogueiros. Como você bem sabe, não pertenço ao meio de vocês, mas me sinto um pouco sim participando da grande rede de amigos que vocês formam.
Beijos, meu amigo.
Lisandra Fernandes
ResponderExcluirE que clima você conseguiu criar! Vixe!
Lembrei-me das estórias de assombração que o meu pai contava (rsrs). Só que neste caso seria um enviado do bem para cuidar da mãe do Zé Agripino. Tudo é possível (rsrs).
Adorei! Parabéns, amigo!
Meu abraço.
Oi Toninho, eu acreditaria sim! Excelente seu texto!
ResponderExcluirVocê escreve e cria muito bem e consegue levar o leitor até o fim. Este é um dos segredos de um bom escritor!
Um "causo"daqueles que o povo conta, rs muito bom!!
Já fiquei fã rs!
abraços pra ti e quando quiser me visitar, fique a vontade, será um prazer receber-te!
Lu C.
Toninho,
ResponderExcluiragradeço-lhe pelo comentário
que fizeste no Castanha Mecânica
em relação ao meu E-book!
De coração,
pura gratidão!
Boa tarde, Toninho. Amei o conto, adorei!
ResponderExcluirMuito bom, prendeu a minha atenção desde o início.
Fiquei me imaginando naquela rua de salto fino, certamente eu cairia, rs.
Acredito, que o homem de branco era um médico espiritual, a única coisa que para mim justificaria o despertar da mãe do Zé, ainda mais querendo café com bolo de fubá, rs. É gostoso mesmo.
Amei e amei!
Podemos até sentir medo, mas vivemos em um mundo espiritual, que então só recebamos boas visitas, como esse homem, que creio ser o médico desse engraçado conto.
Parabéns, amigo!
Beijos na alma e paz!
Oi Toninho
ResponderExcluirLi com toda atenção mas no final tive que rir porque não acreditei mesmo rsrs
histórias de Toninho ... rs
Escreves bem abessa ,gosto muito,
deixo um abraço
Eu acreditaria sim! Anjos visitam trazendo o milagre que precisamos, às vezes batem à porta, mas outras vezes não, apenas deixam a benção. Sensibilidade para vê-los poucos têm. Adorei Toni! Gr. Bj.!
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