Na
casa da minha avó tem um local do terreno, que ela chamava de grota fria. É lá
que nascia a agua, que descia por um rego até a porta da casinha, onde desaguava
numa bica de bambu. Não entendia, porque aquela agua caia noite e dia sem parar,
dentro de uma gamela grande sobre uma tarimba, onde tinha uma barra verde de sabão
de pedra, bucha da palha do milho e uma lata cheia de cinzas, para arear
aquelas panelas pretas.
Nossas
férias escolares eram com minha avó, tínhamos a tarefa matinal de limpar o caminho
da água, devido às folhas que caiam sobre ele. Ao
longo deste rego sempre tinha algum tipo de armadilha, para prender pássaros ou
animais, que ela prazerosamente cuidava de preparar para seus netos, dizendo
que era um guisadinho. Eu adorava aqueles guisadinhos da minha avó Mãecema,
feitos no toucinho acompanhado de alguma hortaliça refogada.
Lá
na grota tinha uma pequena horta, onde se podia colher,
salsa, cebolinha, couve, tomate, jiló, almeirão, mostarda e taioba. Outra
tarefa matinal era regar estas plantas, com uso de um regador velho, que ficava
por lá. Morria de medo da onça, que o irmão mais velho, jurava que descia da
mata, para beber agua na fonte. Tinha uma armadilha por nome de mundéu,
própria para prender paca, animal de carne deliciosa, cobiçada pelos caçadores
da região, com seus cachorros treinados contra tatus, coelhos e pacas.
Eu nunca vi a armadilha prender uma paca, mas ela estava lá à espera da
tal paca.
A agua brotava entre pedras pretas. Caia cristalina e gelada. Nas manhãs de
inverno o local ficava coberto daquela cerração e a água mais gelada. Gostava de beber aquela agua juntando as duas mãos ou às vezes usando uma folha
do pé de inhame ou taioba, que tinha muito no local. Era gostoso saborear a
cana caiana cultivada lá e beber aquela agua, que não parava de descer pelo
rego.
Hoje
apenas umas pedras pretas e secas, sem o filete de agua, nem rastros das pacas,
onças, sem horta, sem cana, sem vida, sem nada. Apenas um local seco perdido ao
pé da mata já devastada e substituída por arvores de reflorestamento. Nenhuma
foto, nenhuma lembrança a não ser esta mancha, que a memoria insiste em não
apagar.
Toninho.
Pensando na falta de água que assola São Paulo e já escrita numa ficção de Inácio Loyola (Não verás país nenhum)
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Grato sempre pela leitura, desejo uma boa e colorida semana amigos, em tempo os visitarei com um leve ajuste no meu tempo,rsrs,
Boas essas lembranças do passado. É uma pena que lugares como esse (nascentes) não tenham sido preservados.Já estamos sofrendo as consequências. Abraços.
ResponderExcluirToninho,tu nos levas junto contigo a esses lugares d tua infância e que boa viagem essa! Lindas recordações daquele tempo tão simples e bom da vida!
ResponderExcluirEssa grota hoje, nada mais tem daquela época. O bicho homem, tudo deteriorou... Pena! abração, tudo de bom,chica
Meu querido Toninho, que bom é abrir o PC e dar de caras com recordações tão distantes mas tão maravilhosas, são elas que nos guiaram para toda a vida são as nossos tesoiros de nostalgia que também eu chamo da minhas raízes. Que sempre irão fazer parte do nosso percurso de vida, somo as árvores que Deus nos deu espaço para andar, mas se estas raízes forem cortadas tudo em nós se acaba, porque também elas fazem parte de nós boas ou más pessoas em que a vida nos tornou.
ResponderExcluirAmigo mais uma vez desculpa o testamento, mas esta também sou eu, beijinhos de luz e muita paz.
PS: não esquece do selinho no lamentos gostaria que o fosse buscar.
A natureza, tão perfeita, porque destruímos?
ResponderExcluirEspero que as pessoas pensem um pouco no que fazem, pois se continuar desse jeito, vai ser difícil encontrar lugares livres de zona urbana!
Bjs Neno
Oi Mineirinho
ResponderExcluirque lindas lembranças!
mas pena saber que a grota secou
mas ficou na tua memória um veio de água e com
muitas riquezas!
( você tinha medo da onça, e eu tinha medo de ser enterrada viva. Pode isso? de onde eu tirei esse medo não sei.)
abraços Zizi
Oi Toninho
ResponderExcluirCasos belos e tristes como os seus teimam em se repetir com muita gente.
Também lamento uma lagoa da minha infância e adolescência, na Fazenda Modelo, aonde andávamos de barco, hoje tá seca, uma terra rachada, abandonada.
O resultado disto tudo já está aparecendo.
Grande abraço.
Toninho,voltei pra te agradecer todos os carinhos comigo, com Neno e ainda tua linda poesia que anexei ao texto com teu link! Obrigadão! abraços, boa noite, chica
ResponderExcluirOi Toninho na casa de meus avós paternos na colônia ( grota) também tinha um riacho em que brincávamos , não tinha onça, mas sim cobras que apareciam de vez em quando e eu tinha muito medo. Tinha muitas outras coisas boas por lá, deu saudade este teu texto lindo.
ResponderExcluirUm abraço carinhoso e obrigada por ter ido me visitar.
Belas lembranças meu amigo, o importante é o que fica guardado na memória que está sempre viva.
ResponderExcluirBeijos e um ótimo dia!
Que delícia de memórias e que triste o que vivenciamos. Sintonia, postei lá no blog uma reflexão, não tão linda como a sua mas na mesma direção do desvastamento. bjs
ResponderExcluirEsta memória me remete a memória similar. Havia lá no bairro onde nasci, e vivi por cerca de vinte anos um córrego onde banhavamos todas as tardes.
ResponderExcluirMas, abaixo, havia uma gruta, onde apenas um homem banhava, e tinha coragem de adentrar a gruta que lá existia.
Com o passar dos anos, com medo e temor, destruíram a gruta, pois, julgavam ser perigoso tal lugar.
Hoje, o córrego existe. Mas, não existe mais como antes. E nada existe como antes, não é?
Esta memória me remete a memória similar. Havia lá no bairro onde nasci, e vivi por cerca de vinte anos um córrego onde banhavamos todas as tardes.
ResponderExcluirMas, abaixo, havia uma gruta, onde apenas um homem banhava, e tinha coragem de adentrar a gruta que lá existia.
Com o passar dos anos, com medo e temor, destruíram a gruta, pois, julgavam ser perigoso tal lugar.
Hoje, o córrego existe. Mas, não existe mais como antes. E nada existe como antes, não é?
Toninho,
ResponderExcluirviajei nas tuas lembranças. Que delícia! como gosto de lugares assim. Não tive quando criança mas hoje, lá o meu pedacinho de mata, eu e meu marido conseguimos em 14 anos reflorestar com árvores locais o nosso terreno. Fico estarrecida como pessoas que são do interior compram terrenos lá e a primeira coisa que fazem é cortar as árvores de modo criminoso. Ficamos felizes pois como tudo é cercado aves conseguem procriar sem que sejam caçados.
Amigo, tem toda razão.
É essa falta de consciência com a mata que faz essa falta de água.
Podemos construir nossa morada sem destruir a natureza!
Adorei voltar a vir a este espaço iluminado, bom de ler!
Que nome lindo o da sua vó: MãeCema, prece nome de entidades da mata.
Beijos no seu coração.
Oi amigo, fiz um link deste post maravilhoso num meu lá no Viajantes.Aqui me despertou uma reflexão sobre a cura de nossos planeta e de alguns muitos humanos.beijos.
ResponderExcluirA infância empresta uma doce pátina às nossas memórias. Lindos tempos e que bela homenagem a essa avó que os recebia com tanto carinho e mesa farta.
ResponderExcluirBeijinho, uma doce semana
Ruthia d'O Berço do Mundo
Que lindo Toninho, doces recordações de doces tempos que ficaram só na lembrança. Recordar é viver!
ResponderExcluirBjs
Marli
http://marliborges.blogspot.com.br/
Querido Toninho
ResponderExcluirQue bela crónica!
Uma simbiose perfeita:viver em contacto com a Natureza,comendo o que ela produzia e matando só para consumir na alimentação do dia a dia.
Quantas saudades da Vóvó e da sua comidinha gostosa!
Como é bom recordar e ler as suas belas recordações!
Afagos na sua alma.
Um beijinho
Beatriz