Todos
os domingos lá pelos anos 60 era dia de ir à missa na catedral, na pequena
cidade de Itabira, para o povo do bairro da poeira vermelha. Era dia de vestir
a melhor roupa e até calçar sapatos. Era também dia de comer macarronada feita
com sardinha, acompanhada de lombo de porco ou a famosa galinha caipira com
quiabo e angu. Era especial.
Os
meninos das ruas de poeira, adorávamos ir à missa na catedral no centro da
cidade era o passeio em nome da religiosidade de nossos pais. Sabíamos da presença
junto ao pirulito no adro da igreja, de um velho senhor com o carrinho de
pipoca e outro com carrinho de algodão doce branco como as nuvens que às vezes passeavam
pelo Céu. Era para nós um dia de festa.
Ao
lado da catedral um paredão de cimento com vários furos onde as andorinhas
faziam seus ninhos e chocavam seus filhotes, que vinham aumentar esta família,
que faziam revoadas quando os sinos badalavam ou quando alguns fogos de
artifícios eram queimados nas festas religiosas. Mas todos os dias às dez horas
aconteciam as explosões com dinamite pela Companhia Vale do Rio Doce na Mina do
Pico Cauê. As explosões faziam tremer a cidade, as janelas de nossas casas
faziam uma bateria e muitas vezes quebravam. Era lindo ver as andorinhas por
toda a cidade, principalmente juntinhas pelos poucos fios de eletricidade da
cidade, naquele severo frio da época.
Nós
os meninos das ruas de poeira exímios caçadores de passarinhos, nunca usávamos
nossos estilingues contra elas, eram como pássaros abençoados vindos do paredão
da catedral. No catecismo as irmãs de caridade sempre alertavam para não
maltratar as andorinhas e nós os meninos em grupo brincávamos dizendo, que as
freiras eram como as andorinhas com aquela roupa preta e o peito branco.
Mas
um dia as andorinhas começaram a sumir dos fios da cidade, poucas ainda
revoavam pelo adro da catedral. Devia ser porque no centro da cidade mais
carros surgiam, mais agitações que espantaram as andorinhas. Numa madrugada
chuvosa uma noticia correu a cidade sobre a queda de um lado da catedral com as
andorinhas voando revoadas para não mais voltarem por lá. Nossa catedral
interditada e fim de nossas festas semanais. Muito se especulou da queda da
igreja e podia notar a tristeza de seu famoso padre José Lopes, por nós
conhecido como Padre Zé Lopão devido sua fúria diante nossos pecados confessos.
No
nosso céu e ruas da cidade apareceu um estranho passarinho de cor estranha
parda, que logo disseram que era Pardal, passarinho comum na capital, que
alguém trouxe acasalado e soltou em seu quintal e este procriava rápido e
espalhou pela cidade. O pardal não construía ninho e se apossava dos ninhos
alheios quebrando os ovos e pondo os seus. E foi assim que as andorinhas foram
sendo expulsas sem conseguir reproduzirem até sumirem de vez dos nossos olhos.
Os pardais venceram as nossas andorinhas, que hoje fazem revoadas nas minhas
memórias de menino das ruas de poeira vermelha lá no alto da cidade.
Toninho.
25/04/2016 ***************************************************************************
Que a semana esteja a fluir belamente.
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Para quem é saudosista pode curtir abaixo.
Sensacional texto, relatando as lembranças da sua infância, Toninho.
ResponderExcluirFiquei com desejo de saborear galinha caipira com quiabo e angu...rs
Tudo de bom!
Desejo uma feliz semana, querido amigo
Um grande abraço de
Verena e Bichinhos.
Puxa,Toninho! Que lindas le,mbvranças as tuas.Até das freirinhas que realmente parecem andorinhas,rs... Muito lindo e o melhor:a simplicidade da vida e do viver naquele tempo! Que coisa boa que não existe mais! As crianças eram crianças. Infelizmente acabei de ler que aqui em Poa, um grupo de "meninas" desocupadas ,programando uma tarde de brigas no shopping novo daqui! Pode? Então, vê só a diferença!!! Essas não terão nada de lindo pra lembrar mais tarde, se estiverem livres...
ResponderExcluirAdorei te ler! E ainda aprender sobre as andorinhas e pardais! Valeu! Parabéns! abração,chica
Toninho que texto maravilhoso... É muti bom recordar principalmente uma vida pacata, simples de nossa infância.Um abraço.
ResponderExcluirÉlys.
Simplesmente belo caro amigo Toninho ,como é maravilhoso viajar neste lindo momento que escreveu cheio de lembranças e saudades ,e como se diz aqui recordar é viver ,muitos parabéns ,um grande abraço ,muitas felicidades.
ResponderExcluirToninho que lindas memórias! as revoadas de andorinhas faziam parte das cidades nessa época. Pena que os pardais chegaram destruindo. Mas também são bonitinhos. Cantam e cantam. Temos que aceitar as mudanças e depois suspirar com as recordações. Que infância bonita você teve. Muito bom vê-la aqui retrada em suas linhas.
ResponderExcluirabraços
Boa noite, amigo Toninho!
ResponderExcluirComo todo bom menino da sua época, não poderiam faltar os pardais e as etilingues... velhos tempos onde se podia fazer isso 'sem culpa'... meu netinho ganhou um numa festinha infantil... mas tinha consciência de que era para brincar de 'fazer de conta'... rs...
Suas lembranças devem retratar o ser puro e inocente diante de tudo que lembra nossa infância doce que vêm em nossa mente em forma de cânticos de pássaros e brincadeiras com plantinhas inocentemente...
Muito lindo seu conto!
Bjm muito fraternal
Que linda lembrança poeta, as de minha infância são bem parecidas com as tuas , a cidade pequena, o sino da matriz, e o bom é poder voltar e ter a Alice crescendo entre as mesmas ruas que andei
ResponderExcluirÉ a lei do mais forte, ou do mais esperto, inclusive no reino animal. Que delícia de história, Toninho! Me fez lembrar de uma casa que morei quando criança e que hoje não existe mais. Engraçado passar por lá e não a ver, mesmo sendo bem velha... Parece que foi apagado um tempo da vida. Mas é assim mesmo...
ResponderExcluirBeijo, amigo poeta!
Oi Toninho
ResponderExcluirQue lindo seu texto, cheio de boas recordações da sua infância. Os pardais são uma praga, tomam conta de tudo, os outros passarinhos não aparecem por causa deles.
Aqui em casa é assim, só dá pardal.
Um grande abraço.
Oi Toninho boa noite!
ResponderExcluirLembrei-me das freiras da minha cidade mineira, que também pareciam andorinhas. Que saudades me deu do meu tempo de criança, de ter vivido tudo isto. Me vi neste lindo texto.
Um grande abraço,
Mariangela
Lindíssima história,lindíssimo conto,bela e fantástica escrita,gostei imenso!!
ResponderExcluirAmigo Toninho,
ResponderExcluirBelas recordações! Amei ler o que escreveu!
Sabia que a minha terra é conhecida como "Cidade das Andorinhas"?
Sim, a andorinha é um dos símbolos de Campinas/SP.
Inclusive, uma das figuras que decora as calçadas de pedras portuguesas é simbolizada pela andorinha.
Infelizmente as andorinhas foram embora tb!
QQ dia postarei algumas fotos antigas dessas lindezas voando nos céus campineiros.
Aliás, muitas coisas desapareceram...
Saudade dos velhos tempos!
Tenha um dia iluminado!
Bjks
Oi Toninho
ResponderExcluirNossa!
Que narração linda, ela me fez voltar aos tempos de criança, fui criada no interior e recordo muitas coisas boas.
Hoje aqui não vejo nem os pardais, raras pombinhas fazendo seus ninhos no ar condicionado.
Parabéns
Beijos
Minicontista2
Bela postagem Toninho, me fez voltar ao tempo da minha infância feliz, todo domingo na igreja, os amigos, o ar puro,carrinho de pipoca e algodão doce, os almoços com toda a famíla agradecendo a refeição em volta da mesa....era muito bom. Lembrança ruim dos estilingues nas mãos da mulecada atrás dos pardais.
ResponderExcluiramei! abraços!
~~~
ResponderExcluirLindas as recordações da sua meninice, numa
descrição muito agradável e interessante...
Por cá, já andam atarefadas a construir, numa
azáfama alegre e urgente . um vaivém contínuo
de transporte de palhas e barro.
Escolhem lugares onde dispõem de água.
Voltam todos os anos, vindas do norte de
África e após essa longa viajem, não esquecem
o lugar onde nidificaram...
São sempre bem vindas, pois anunciam o tempo bom...
~~~ Beijinho, amigo. ~~~
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Obrigado Majo por sua presença amigável e amável sempre. Estou esperando seu blog amiga. Que a semana esteja bela e em paz.
ExcluirBom que as andorinhas ainda reconhecem o caminho e voltam.
Bjs de paz amiga.
Querido amigo; que bom rever os nossos tempos... Sempre belas lembranças...Um espetáculo de crônica. Grande Abraço!
ResponderExcluirSaudades são folhas mortas
ResponderExcluirque o vento leva no ar
enquanto a saudade vive
eu vivo a recordar
Amigo Toninho aqui diz-se que recordar é viver e nós vamos vivendo mas nunca deixamos morrer as recordações que foram e serão sempre as nossas raízes como as raízes das árvores que se agarram ao chão e que só as grandes tempestades as podem mover, ou arranca-las pela raiz, enquanto a vida nos der a mão a saudade jamais se afasta do nosso coração.
Fiquei muito feliz pela sua presença no meu cantinho e pelas lindas palavras que sempre me deixa, votos de mais um fim de semana na paz do Senhor e até um destes dia ou quando calhar.
Esse é o verdadeiro tesouro que temos...sao as nossas memorias...e vc é bem rico, tem lembranças lindas de uma infancia feliz...adoro o que vc escreve,me faz recordar tbm da minha infancia na cidade pequena...belo texto...
ResponderExcluirBeijos, Toninho...
Esse é o verdadeiro tesouro que temos...sao as nossas memorias...e vc é bem rico, tem lembranças lindas de uma infancia feliz...adoro o que vc escreve,me faz recordar tbm da minha infancia na cidade pequena...belo texto...
ResponderExcluirBeijos, Toninho...
Boa noite Toninho,
ResponderExcluirFantastico texto recordando com lindos e magníficos detalhes tempos outros em que a vida apesar de simples era mais rica em convívio e sensaçóes vividas em comunidade.
Aqui em Portugal era muito semelhante e recuei no tempo das minhas lembranças de então.
Muito obrigada pela linda partilha e Parabéns por mais um fantástico texto.
Beijinhos e um fim de semana abençoado.
Ailime
Boa noite querido Toninho.
ResponderExcluirPude sentir a sua saudade daquele tempo onde existia mas amor, liberdade. Belas recordações. Hoje o mundo é bem mais complicado. Amei ler o seu relato de sua infância tão feliz. Um lindo mês de Maio. Enorme abraço.
Boa noite querido Toninho.
ResponderExcluirPude sentir a sua saudade daquele tempo onde existia mas amor, liberdade. Belas recordações. Hoje o mundo é bem mais complicado. Amei ler o seu relato de sua infância tão feliz. Um lindo mês de Maio. Enorme abraço.
Bom dia, Toninho
ResponderExcluirObrigada por brincar junto, viu?
E os Bichinhos falaram bem...rs
Adorei!
Um lindo dia para tí
Um grande abraço de
Verena e Bichinhos
Olá, Toninho.
ResponderExcluirQue tenhas um fim de semana bom.
E um dia das Mães, maravilhoso. Confesso, que não tenho mais a minha, ao meu lado aqui na terra. Mas, tenho a esperança de reencontrá-la um dia, em algum lugar de tempo e espaço, por que creio na ressurreição, em nome de Jesus Cristo.
Um abraço, para você.
Bom dia meu lindo amigo, é com muita ternura que recebo seu abraço, e muito, muito feliz por saber que lá longe, lá muito longe, tem um amigo tão especial que lembrou que eu sou mãe, e assim me envia o seu afecto.
ResponderExcluirSer mãe é ser como o carvalho que em cada tempestade aprofunda as raízes no solo, ser mãe tem de ter essa força para superar todas as contrariedades que o filho possa encontrar pelo caminho...mãe ama, mãe sofre, mas nunca se deixa cair antes do filho, mãe só vai embora depois do filho ter alguém que a possa substituir.
PS:tem vezes que infelizmente ela vai mais cedo.
Beijinhos de luz e muita paz em sua vida(quem tem mãe que a abrace e lhe mostre seu amor...quem já não tem envia em pensamento seu beijinhos para as estrelas)
Olá Toninho,
ResponderExcluirUma crônica nostálgica e bela, construída sobre inesquecíveis lembranças.
Adorei a agradável leitura.
Passo para agradecer sua passagem pela minha postagem de pausa. Demorei um pouquinho, por imposição dos chamados da vida real.
Que o Dia das Mães seja de luz, trazendo alegrias às mamães homenageadas. Para as que já se foram, que recebam energias de amor e gratidão.
Até breve, caro amigo.
Grande abraço.
EXCELENTES ESAS IMÁGENES EN TU RELATO.
ResponderExcluirABRAZOS
Bom fixar as memórias, Toninho! Evita que voem e se percam.
ResponderExcluirLindo texto.