Quem passava pela rua via
um vestido numa varanda. Pela manhã e tarde uma velha senhora a espreita-lo e acaricia-lo
com mãos tremulas, como se fosse à pessoa que o vestira. Parecia ritual, quando
o sol se punha surgia um som de valsa em uma vitrola e o vestido era retirado
do varal abraçado como delicadeza. Desfilava com ele colado ao corpo como numa
dança. Não havia tristeza na cena.
Na manhã com os
primeiros raios solares ela aparecia com o vestido pelas mãos como uma mãe a
embalar seu filho. Ali na varanda ela ficava momentos nesta postura, até que o
pendurava em uma das cordas do varal. Lançava um ultimo olhar e desaparecia na
solidão de seu casarão.
Numa tarde de Outono ela
não apareceu na varanda, para retirar o vestido, o que gerou curiosidade e preocupação
aos vizinhos, acostumados com a cena ao som de uma valsa com som distorcido de
um “long play” arranhado de tanto uso. A velha senhora morava sozinha e às
vezes se via outra senhora estranha à rua, entrar e ficar horas no casarão
geralmente pela manhã após o ritual. Naquele dia ela também não aparecera e a
noite cobriu o casarão, sem que o vestido fosse retirado do varal.
Ao aproximar-se da meia
noite, um vizinho percebeu um facho de luz na varanda. Assustado viu o vestido deslizar no varal de
uma extremidade para outra, como se valsasse. Gritou para a mulher que medrosa
se recusou. De repente os acordes de um piano ecoaram na madrugada nevoenta. Uma
ventania estranha arrancou o vestido e desapareceu pela rua para horror do
vizinho, que gritou loucamente na madrugada silenciosa.
Na manhã seguinte
contou para a vizinhança descrente do fato, mas estranhando a falta do vestido
na varanda. Próximo do meio dia um movimento na porta do casarão chamou a
atenção da vizinhança. Um policial saiu da casa e disse que havia um pedido de
socorro na central, mas ninguém se encontrava no casarão, apenas um piano
estragado e uma vitrola velha com vários discos empoeirados de valsas, além de
um encardido e surrado vestido jogado sobre o braço de uma cadeira de balanço. As
pessoas se entreolharam e aquele vizinho foi internado numa clinica psiquiatra.
Toninho.
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Conto na participação da BC_botando a cabeça para funcionar que a Chica promove aqui:chicabrincadepoesia participe é livre.
UAU! Arrepiei aqui! Que inspiração...Instigante, macabra, fizeste um voo de deixar os cabelos em pé.Ainda bem é cedinho, senão teria até medo de olhar para esse vestidinho,rs... Adorei e só posso te aplaudir novamente! Obrigadão! Ficou DEZ! Levo o teu link! abração,chica
ResponderExcluirBom dia, Toninho
ResponderExcluirExcelente o seu conto.
Nossa,sua cabeça funcionou lindamente.
Deixo um carinhoso abraço nesta quinta-feira.
Verena e Bichinhos.
Um conto muito bom. Excelente a sua criarividade.
ResponderExcluirUm abraço.
Élys.
Acima quiz dizer criatividade
ResponderExcluirEXCELENTE HISTORIA. BONITA Y MISTERIOSA.
ResponderExcluirABRAZOS
Boa tarde Toninho,
ResponderExcluirMagnífica a sua inspiração.
Um vestido que originou tão belo conto!
Um beijinho.
Parabéns!
Ailime
Um talento que invejo (no bom sentido),Toninho essa imaginação fértil que coloca cada palavra a mover nos olhos do leitor e juntos imaginar a cena. Fiquei valsando com o vestido rs ficaria até mais um pouco,mas o autor não obedeceu e deu um final triste àquela alma romantica que esteve bailando por ali.
ResponderExcluirParabéns _ a Chica sem perceber bota a cabeça de todo mundo pra funcionar.Gosto disso.
Um abraço grande
Toninho,
ResponderExcluirNossa! Arrepiei!
Vc sempre mágico com as palavras.
Um conto com mistura de suspense e acredito até com pitadas de terror. Rsrs. Medo! Vc me surpreendeu! Parabéns! Ótima noite, meu amigo! Bjs
O seu conto misterioso ficou muito interessante Toninho. Parabéns pelo inato talento para a escrita criativa...
ResponderExcluirA nota de humor final é uma chave divertida para quebrar o clima sinistro do conto...
Muito bom, mineirinho.
Dias muito felizes.
Abraço de sincera amizade.
Beijo
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Uma participação bem misteriosa e imaginada com inteligência... Voos altos nos detalhes... Legal, Toninho!...
ResponderExcluirUm abração e, vamos adiante...
Uauuuu Toninho, que conto maravilhoso! Viajei nas asas da imaginação, bailei com o vestido branco, senti medo, fiquei na expectativa do final, fiquei com dó do vizinho, tantos sentimentos que esse conto provocou, enfim, adoreiiii! Parabéns amigo!!
ResponderExcluirViajou fundo meu amigo, bela história e eu já imaginando outro final...maravilha.
ResponderExcluirMe fez lembrar minha vizinha D, Terezinha de 87 anos bem Lúcida por sinal a escutar todos os dias aqueles discos empoeirados e a valsar...diz ela viver no passado e a lembrar do marido...meio macabro também.
Arrasou bela imaginação tivestes! abraços
Boa tarde, amigo Toninho!
ResponderExcluirInteressante com sua imaginação alçou voo...
O escritor prevaleceu aqui soberbamente...
Parabéns!
Bjm muito fraterno
E, que inspiração, hein!? De prender a respiração! Parabéns!
ResponderExcluirAbraço.
Olá poeta
ResponderExcluirSua imaginação foi bem longe, adorei, confesso que achei que o final fosse outro, me surpreendeu.
Um abraço, amigo Toninho.
O que não faz um vestido
ResponderExcluirBranco da cor do jasmim.
Para enlouquecer assim
A retidão de um sentido
Que torna o olhar atrevido
Para imaginar, enfim
O conteúdo ao cetim
De uma cama. O tecido
Parece ser de chita,
Mas a mulher, de bonita
Para a cabeça do crente
É a beleza infinita
Onde o louco amor habita
Porém um amor doente.
Lindo conto, Toninho! Parabéns!
Deu medo... mas adorei...assim como adoro sua imaginaçao...
ResponderExcluirBeijos,Toninho...
Muito bom, mas qual é este limite da sanidade. Gostei como desenvolveu seu conto, repleto de magia e mistérios. Coitado do vizinho que acabou como louco. rs.rs. Deve ter se inspirados nos "causos" da sua infância. Amei. bjs
ResponderExcluirExcelente Toninho, quanta criatividade. Fico encantada com suas histórias!
ResponderExcluirUm abraço e feliz final de semana.
Amara
Puxa amigo Toninho, quase que vislumbrei daqui a velha senhora valsando com o seu vestido branco...
ResponderExcluirO seu grande poder narrativo sempre me surpreende.
A música também é sempre bem escolhida.
Um beijinho grato
O Toque do coração
Um vestido branco. Uma mulher a fazer dele a razão de viver ou de morrer... Que belo, conto! Parabéns.
ResponderExcluirUma boa semana.
Um beijo.
Olá, Toninho. Gosto dessas histórias misteriosas!
ResponderExcluirAcho que o vestido - e sua proprietária - foram dançar em outros mundos...
Feliz Páscoa!
Olá Toninho adorei sua história muito bonita e bem pensada, beijinhos e um forte Abraço
ResponderExcluirO importante , querido amigo , é que sem saber que era para você "botar a cabeça a funcionar " conseguiu que eu me sentisse ausente , tal a vivacidade da sua narrativa !
ResponderExcluirGrande conto !!😄
Abraço , Toninho !
Uff! Muito bom, Toninho!! E que suspense, eu imaginei que a história iria dar uma volta, mas no fim surpreende! Você é bom em conto, hein?!?! Que imaginação. Só em olhar o vestido branco dependurado eu deduzi que boa coisa não seria. rss Parabéns!
ResponderExcluirBeijo e uma ótima páscoa pra você e família!
Uma intrigante história... que nos agarra da primeira à última palavra! Adorei o texto, que a imagem da Chica proporcionou!
ResponderExcluirExcelente trabalho, Toninho!
Abraço!
Ana