Participação na blogagem coletiva de nossa amiga Norma, uma palavra é dada, para a criação de um pequeno conto livre, baseado na temática da palavra, que este mês é Abandono. Participe e leia outros amigos com links aqui pensandoemfamilia
Júlio descia a ladeira
do centro histórico, como quem segue um féretro, carregando todo seu passado e histórias.
Cada casarão desbotado e janelas quebradas surgiam pessoas de olhares tristes e
temerosas. A calçada esburacada com suas pedras de minério traduzia o abandono crescente
e irracional.
Parou em frente ao
chafariz seco coberto de musgos, parecia gritar de sede a imensa flor que jorrava
agua pelas pétalas. Os pombos entristecidos povoavam o chafariz, olhavam aquele
homem com sua máquina fotográfica.
De um lado da praça, um
poeta de braço esticado apontava para o além, na outra mão um livro de poesia
tráfico de negros. Sobre seu braço esticado onde repousava um casal de
andorinhas, pendia um ramo verde trazido por algum pássaro. Aos teus pés ainda
brilhavam restos dos trilhos do extinto bonde.
Júlio seguia pelos
becos e vielas, os nomes carregavam uma história. Olhou para a igreja com campanário
caído em total abandono. A casa paroquial agonizava, dela vinham vozes.
Curiosamente aproximou-se, viu uma mulher com dois filhos, maltrapilhos
sentados sobre uma esteira, comiam uns pães. Sentiu um arrepio ver aqueles
seres abandonados a todo tipo de sorte ou azar. Registrou a imagem.
Assim colocou sua máquina
na mochila, enxugou os olhos, deixou um dinheiro junto da mulher. Voltou para
seu carro, trancou-se no ar condicionado, acelerou num adeus à sua cidade. Na multimídia
tocava uma canção, que falava do retorno à sua terra para sentir a emoção, mas
encontrou solidão e abandono.
Toninho
23/02/2024
Grato
pela visita.
Bah, Toninho! Conseguiste retratar perfeitamente a emoção e tristeza de retornar à cidade natal e ver cada abandono. E eles gritam aos olhos.Só não os vê quem não quer! Ficou linda a história do Julio e sua máquina e, ao final, ele mesmo retorna para o carro, ar condicionado e tudo por lá ficará na mesma...Ou só crescerá o ana=bandono!
ResponderExcluirLinda participação!
abração, tudo de bom,chica
Bom sábado de Paz, querido amigo Toninho!
ResponderExcluirAssim eu me sinto ao ver a minha própria cidade Natal pelos noticiários, um caos. Nada mais é igual e o abandono dos cuidados públicos se faz sentir. Infelizmente temos que buscar viver onde mais nos apraz.
Perfeito conto de Aceitação que devemos deixar para trás o que está entregue ao abandono.
Muito bem escrito seu conto.
A sensação final do homem deve ter sido de muita tristeza interior. A mim me deu essa sensação ao ler seu conto. Mas, vida que segue.
Tenha um final de semana abençoado!
Beijinhos com carinho fraterno
Um conto que nos traz forte a questão social que vivenciamos. Cada olhar, cada gesto mostra o quanto de tristeza se tem como observamos o abandono total dos governantes pelo legado histórico, pela cultura, pelo povo. É triste seu conto, mas como Júlio que fotografou, seguimos denunciando e pesarosos. Bom sábado. Grata pela intensa participação.
ResponderExcluirUm conto com uma abordagem bem pertinente 💚... Bom fim-de-semana 😘
ResponderExcluirParabéns pela criatividade... Ficou um belo conto repleto de humanidade... Algumas comunidades transformam-se em cidades fantasmas.
ResponderExcluirJoan Baez gostaria de ler o seu conto... A sua voz era bela, emocionante e inspiradora.
O retorno nem sempre é como se deseja... Em Portugal, há um aforismo que diz: ''Nunca voltes a um lugar onde foste feliz''... E 'vamos adiante'...
Dias serenos e amenos numa feliz semana. Bj
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Boa tarde Toninho
ResponderExcluirUm conto muito bem estruturado e escrito de maneira real ao tema proposto.
De facto é muito triste ver o abandono em certas cidades.
Desejo resto de um Domingo Feliz.
Um beijo
:)
Perfeição, como relatas as situações das ruas e casarões históricos lindos, que existem no país, no mais completo abandono. É de chorar, assim como vi as situações de Julio, nos noticiários e assim como ele meu coração chorou! Ele também não podendo fazer nada, vai embora mais uma vez, sublime escrito! Abração!
ResponderExcluirVoltei para falar que Joan Baez, fez muito sucesso quando namorávamos Tony e eu na mais pura inocência na década de sessenta e aqui, no nosso país, Agnaldo Timóteo estourava cantando a mesma música: Como era verde meu vale! Saudades doeram muito! Vida que segue! Abração!
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